Transcrição do episódio 7 - Quantas línguas cabem na boca?

CONVIDADOS FALAM: eu tagarelarei, tu tagarelarás, ele tagarelará, nós tagarelaremos, vós tagarelareis, eles tagarelarão. (solicitar para gravarem e encaminhar para os hosts)

 

ANA KARLA: Hey, everybody! Este é o sétimo episódio do LínguasCast, o seu podcast sobre linguagens, identidades e otras cositas más. O título do episódio de hoje é: “Quantas línguas cabem na boca?” Let’s que vámonos!

 

LETÍCIA: Olá, linguarudos, linguarudas e linguarudes! Sejam bienvenidos ao sétimo episódio do LinguasCast. Eu sou a Letícia.

 

DAVI: E eu sou o Davi. Hello my tongue twisters, welcome to our podcast. 

 

DAVI: - O tema do episódio de hoje tá na ponta da língua e é o bilinguismo.

 

LETÍCIA: - E para falar sobre ele, nós convidamos a Daniele de Oliveira Moreira Barbosa, mestre em estudos de linguagens pela UFMS, e professora da escola bilíngue Harmonia em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. 

 

DAVI: - Daniele, a gente agradece muito por ter aceito o convite por estar aqui com a gente. Obrigado!

 

DANIELE: - Sou eu quem agradeço, fiquei muito lisonjeada com o convite. É um privilégio, muito obrigada!

 

DAVI: - Muito bom! 

 

DAVI: - Então, já para começar a nossa conversa é, eu queria que você explicasse para os nossos ouvintes assim é, quais são as línguas que você fala? E como que elas entraram na sua vida?

 

DANIELE: - É, eu só falo a língua inglesa. Além da portuguesa, eu gostava muito de inglês quando comecei a estudar o ensino fundamental, 2, sexto ano. Comecei primeiro admirando minha professora, e a partir disso a disciplina. Com 13 anos, eu pedi para minha mãe para eu começar um curso de inglês aqui em Campo Grande, e ela me matriculou, então estudei dos 13 aos 18 anos, língua inglesa no instituto cultural americano, uma família de americanos que vieram e montaram uma escola aqui em Campo Grande. Cada vez que eu aprendi, eu ficava fascinada porque eu podia entender filmes, entender músicas, e sem contar que tinha um status na escola. Quem fazia inglês não é? Então, eu me achava que eu estava falando inglês. Depois disso, eu iniciei a minha graduação em outra área em direito e quando eu comecei direito, houve uma oportunidade numa escola que eu havia estudado na educação fundamental no ensino fundamental e ao diretor de uma escola pequena, né? Me convidou para cobrir uma licença maternidade de uma professora de inglês e essa professora não voltou da licença. Ela optou por ficar em casa, né? E eu comecei, aliás, e eu continuei a lecionar e continuei e continuei.

Regulamentem minha profissão, fiz Letras e depois do mestrado e nunca atuei no Direito.

 

LETÍCIA: - A Letras ganhou, hahaha (risos)

 

DANIELA: - Muitas vezes as pessoas se perguntam, não é? Você gosta de ser professora? Eu não me vejo em outra profissão. Em outro ofício. Senão há educação.

 

LETÍCIA: - Essa pergunta é que nós vamos fazer agora, já faz um tempo que ela foi enviada para a gente pelo professor Elton, lá pelo nosso Instagram. Existe algum tipo de palavra, como por exemplo, um xingamento, alguma coisa assim, que pesa mais numa língua do que em outra? 

 

DANIELE: - Olha, eu acho que isso é muito pessoal. Mas, tem xingamentos, sim. Que quando a raiva está muito grande, quando solta em inglês, parece que está mais pesado. Parece que está mais pesado, sabe? Parece que tem uma força maior .

(Todos riem)

 

DAVI: -  A próxima pergunta. Você falou, você comentou um pouco sobre quando você estava aprendendo língua inglesa, você conseguiu entender, não é? Os filmes, as músicas, aí a gente queria saber se você consegue observar alguma diferença ou dificuldade durante esse processo de aprendizagem mesmo, é de quando você lê de quando você escuta uma música de quando você assiste um filme, tem alguma dificuldade, alguma diferença nas línguas que você fala?

 

LETÍCIA: A gente pensa mais com relação à questão do sentido. Com relação à construção do sentido, porque às vezes, por exemplo, quando a gente sabe quando, às vezes, aquele curto-circuito assim, nossa eu estou lendo isso aqui, no teu caso é inglês, e em português, a palavra que vem no sentido que vem, sabe? Então, às vezes, quando a gente está principalmente nessas coisas mais cotidianas, você não está preparando algo, não está dando aula, está lendo alguma coisa, havendo uma série, tudo assim, aí tu fica na dúvida assim, né?

 

DANIELE: Do que não usar?

 

LETÍCIA: - Não do teu sentido de como constrói ele, assim, a na língua não é? A gente pensou nisso porque às vezes acontece de aquela primeira coisa que tu vem ou sabe 

 

DANIELE: - Quando eu estou, por exemplo, estando, estava digitando a minha dissertação e eu precisava de um sinônimo para encaixar ali e vinha a palavra em inglês, por exemplo. 

 

LETÍCIA: - É assim, né? Se tem e se isso tu acha que tenho muita diferença de uma para outra, se as vezes que nem tu falou agora estou digitando, eu preciso de um sinônimo.

Primeiro vem em inglês. Se essa coisa, essa construção do sentido, às vezes, quando está nesses momentos, ela vem mais assim a num idioma que no outro, por exemplo, não é, ou se eles estão realmente intrincados, de um jeito que logo tu consegue fazer essa, né? 

 

DAVI: - Tem uma questão também das modalidades assim, né? Então você percebe alguma dificuldade de uma modalidade para outra?

 

DANIELE: - Sim, no meu caso particular, eu construo mais sentido na leitura e na escrita, o listening, às vezes pela falta de prática com pessoas que falam fluentemente o idioma, a gente acaba perdendo um pouco. Então, nessa perda é, às vezes você assiste um filme e está escutando sem legendas. É, se você não tiver atenta você troca, você falou e não fez sentido, porque tem muitas palavras de pronúncia parecida, por exemplo tem o Fio que é um nome to feel que é sentir, entre outras coisas, então, a minha dificuldade é que se eu tiver que linkar uma habilidade e no auditivo, listening.

 

DAVI: - Ah, legal!

 

LETÍCIA: - Você sente que sua personalidade muda, para cada língua que você está falando? Tipo assim, quando você está falando mais inglês, muda alguma coisa? 

 

DANIELE: - Parece que quando estou falando em inglês eu não sou a Dani natural, eu sou a Dani que eu preciso me policiar, preciso cuidar. Eu não sei se é porque estou na sala de aula, porque exige uma postura e um comportamento, diferente do que está em uma roda de amigos. Mas, sim, quando eu falo inglês, eu cuido mais conjugação, palavras que eu falo mais devagar para uma pronúncia melhor.

 

LETÍCIA: - É como se você fosse menos expansiva.

 

DANIELA: - Sim, menos expansiva e espontânea.

 

DAVI: - Essa coisa é tão doida né?

 

DANIELA: - Parece que sou outra pessoa.

 

DAVI: - Parece que eu sou bem mais cauteloso, mas, eu não sinto que sou eu, porque eu não consigo me expressar. Eu acho que eu tenho um domínio bom da língua inglesa por exemplo, mas, é como que eu falo um “EITA’’, um “VISH”, um “POXA CARA!”, como eu falo isso em inglês? Não dá, então, tem esse problema, assim às vezes da equivalência, que é um grande problema da tradução e tal. Aí, às vezes eu não consigo me expressar, como eu me expressaria em Portugues, eu acho que eu tenho esse “q’’ a mais com a língua portuguesa que é mais natural.

 

DANIELA: - É a nossa língua materna.

 

DAVI: - Então.

 

LETÍCIA: - Então, eu acho que eu consigo ser eu mesma nos dois. Quem me escuta, amigos, por exemplo, que falam que são de língua materna em espanhol, já que observam que às vezes eu mudo, eles acham que eu sou mais alegre, quando eu tô falando espanhol, né? Mas isso é uma observação de fora, assim, eu não consigo observar as mudanças assim.

 

DAVI: - Eu acho que  varia né, pra cada um, pra língua também, né? Às vezes tem línguas alemão, por exemplo, eu acho que pode ser um pessoal muito diferente.

 

LETÍCIA: - A questão da língua, de ser, no meu caso, minha segunda língua é o espanhol e a de vocês inglese, talvez tem alguma relação com isso? 

 

DAVI: - É, você falou um pouquinho sobre as suas aulas que você dá aula que você fala, não é que você toma esse cuidado quando você fala inglês nas aulas e a gente queria que você contasse um pouco sobre as turmas, né? Que você ensina é quais são essas turmas com que você trabalha? Qual é o perfil desses alunos, como é que, como é que é? 

 

DANIELE: - Eu quero fazer uma correção. Quando você falou, também trabalha na prefeitura, só que ela não é uma escola bilíngue. Mas é porque daí tem uma diferença que a gente poderia trazer. 

 

LETÍCIA: - E na prefeitura dos também da aula de inglês. 

 

DANIELE: - Mas lá são aulas de inglês, diferente de uma escola bilíngue. Você acha que cabe falar alguma coisa da prefeitura?

 

LETÍCIA: - Eu acho que aqui, no nosso caso, nos interessa mais o bilíngue. Falar mais a questão do bilinguismo, assim, se tu puder falar um pouco do perfil dessas turmas, assim de idade, como que é o número de alunos, a gente passou a mais com relação a isso.

 

DANIELE: - Então tá certo, então a gente continua naquele introdução, um bom na escola que eu trabalho. Que ela é uma escola privada, é? Para uma sociedade, para um perfil de alunos é um tanto quanto peculiares. É uma escola de classe média alta daqui da nossa cidade. É em período integral, então funciona assim. Pela manhã, os alunos têm aula do currículo brasileiro, português, matemática, história, Geografia e assim por diante. No período da tarde, eles têm aulas em inglês das disciplinas. Então eles têm que science, math, entre outros. Então, o que acontece? Nós, professores bilíngues, nós não temos a rotatividade em sala, é como se nós fôssemos pedagogos daquela turma. Eu só fico em uma turma com essa turma. Eu revisito os conteúdos do currículo brasileiro na língua inglesa, então, por exemplo, se eles estão aprendendo ensaios, Sistema Solar, eles vão aprender no currículo americano, na parte da tarde solar system, claro que no currículo brasileiro é mais aprofundado, mas no americano, eles revisitam, com ganho de vocabulário exatamente com os da gramática, então.Este ano, os meus alunos são do quinto ano, tem entre 10 e 11 anos e eles só tem a mim, como a professora de língua inglesa que é quinto A aí o quinto b outra professora e assim por diante. 

 

LETÍCIA: - Então a tarde tu fica com só com somente com essa turma?

 

DANIELE: -Isso, só uma sala.

 

LETÍCIA:  - E revisitando todas as disciplinas que eles tiveram, só que em inglês é isso, só contigo?

 

DANIELE: -Isso.

 

LETÍCIA: -Hum, beleza. 

 

DAVI: - Mas aí eles falam inglês só à tarde ou assim é qualquer momento que eles quiserem. Como é que funciona isso?

 

DANIELE: - É muito interessante em uma escola bilíngue. É, eu também trabalho em um currículo brasileiro dessa escola e a professora e a outra professora também. Então nós duas somos currículo brasileiro e americano, então eles levam uma vantagem que eles fazem o trânsito de uma língua para outra. Tanto faz no currículo brasileiro quanto no americano, então é como se eles tivessem uma imersão dentro da sala de aula, a princípio, teoricamente deveria ser só a tarde, porque a professora do currículo brasileiro nem sempre é fluente no idioma de língua inglesa, então, teoricamente, é currículo brasileiro de manhã. Currículo americano à tarde, entretanto, acontece essa troca quando as duas professoras são fluentes nos dois currículos.

 

LETÍCIA: - Mas esse é um caso particular que está acontecendo esse ano. Com essa turma? 

 

DANIELE: Isso desde o ano passado. Quando me convidaram também para o currículo brasileiro e a outra professora do americano também, então houve essa troca, mas a princípio, mas mesmo assim não tendo a professora do brasileiro fluente alguns comandos, algumas situações específicas, elas são treinadas para também conversar com eles. Não tem aquela fluência, mas, por exemplo, hora do almoço pra gente, pra ir no banheiro, beber água. Alguns comandos básicos são só na  língua inglesa.

 

DAVI: -Uma curiosidade é quando esses professores estão no processo de ser contratados, né? Da Science ou artes, alguma coisa assim é exigido deles, então, o nível de proficiência é como que funciona? 

 

DANIELE: - Sim, é feito uma entrevista, nível de proficiência, se tiver certificados internacionais.

 

DAVI: - Tem um nível específico, B1 ou B2? 

 

DANIELE: - Esperasse que tenham o B2 minimamente. 

 

LETÍCIA: - Mesmo os que trabalham com o currículo brasileiro, aí não?

 

DANIELE: - Não, o currículo brasileiro é como se fosse um…

 

LETÍCIA: - Um plus.

 

DANIELE: - Isso, certamente, não é necessário, mas é claro que é aquele que, numa entrevista, tiver domínio das duas línguas, ele tem muito mais chances de ser contratado.

 

DAVI: -Mas acontece daí desse professor que dá science ele dá o no currículo brasileiro e também no currículo americano?

 

DANIELE: - Por enquanto, nós temos lá na escola nós duas, eu e uma outra colega.

 

DAVI:  - Ah, só vocês duas?

 

DANIELE: - Por enquanto, isso eu estou falando para vocês no segmento que eu trabalho fundamental um do primeiro ao quinto ano legal, porque nós somos em 4 unidades, então eu não consigo falar se ocorre em outra unidade.

 

LETÍCIA: - É a tua prática, a tua experiência diária.

 

DANIELE:  - Eu posso buscar essa informação para vocês, porque eu acho que não tem. Eu também trabalho com algumas disciplinas em aula de reforço. Eu pergunto, professor de português é a de inglês e tal? Eles falam, não é? Cada disciplina, uma professora.

 

LETÍCIA: - E nessa na educação bilíngue, pensando no planejamento do currículo e na prática pedagógica do professor, né? É de que maneira tu acha que seria possível valorizar as duas línguas igualmente? Será que seria possível? Como se pode fazer isso assim?

 

DANIELE: - Nós procuramos essa igualdade lá na escola. É dia das mães, apresentação no currículo brasileiro, apresentação do currículo americano e, às vezes juntos, e finalização de projeto. Vamos ter um projeto de Science agora, que na verdade é de ciências que encaixamos ciência, sistemas do corpo humano, respiratório, circulatório, digestório, currículo americano, pega um sistema, o brasileiro pega dois sistemas, um apresentação só parte se apresentou em língua portuguesa. Partes apresentam em língua inglesa.

Para que essa apresentação ocorra, tem um estudo prévio desenvolvimento desse projeto previamente que eles já desenvolvem na língua que irão apresentar. 

 

LETÍCIA: -Eles apresentam para quem? 

 

DANIELE: - Para os pais, para a comunidade escolar também. Convidamos outras turmas e eles vão e assistem às apresentações como o treino, mas na apresentação final é para a família, e acontece também todo o ano, o harmonias festival em que os alunos apresentam um teatro em língua inglesa. Nós temos o drama class, e eles treinam, cada série tem o seu espetáculo porque leu a literatura referente a peça, Alice no País das Maravilhas, aladdin, como eu sou quinto ano, nós estamos estudando contra os árabes, faz parte de um projeto do currículo brasileiro e que o americano leu o aladdin e apresentou a peça do aladdin em língua inglesa. As apresentações estão ocorrendo essa semana, setembro e outubro. 

 

DAVI: - Isso é muito legal.

 

DANIELE: - Crianças de desde os 8 anos apresentam em inglês.

 

DAVI: - E esses professores que não são da área de letras. É, eles dão aula de língua inglesa ou eles não dão aula de língua inglesa, assim como que isso acontece lá? A língua inglesa é exclusiva para quem tenha formação ou não?

 

DANIELE: - No começo, a escola contratava profissionais com inglês fluente, que cursassem letras ou pedagogia. Depois de um tempo, a oferta de professores com inglês fluente, já formados em letras e pedagogia aumentou e, por isso, a escola hoje só contrata formados em letras ou pedagogia com o inglês fluente entre tanto no fundamental 2 ou no médio, o professor pode ser formado em matemática, com língua inglesa, porque ele vai dar aula de math.

 

LETÍCIA: - Para os professores, assim que nem tu falou da questão dos comandos, não é o almoço e tal, a escola oferece alguma preparação para esses professores que são do currículo brasileiro, mas que também lidam com esses comandos? Assim que nem tu falou ela, a própria escola é tipo oferece essa uma prática nesses comandos para eles poderem utilizar eles?

 

DANIELE: - Isso, oferece. Teve uma época que uma professora montou um curso de inglês na escola para os professores, direcionado aos professores, da escola Harmonia, para que eles aprendessem é os comandos, porque a intenção da escola é expandir cada vez mais o bilinguismo, então é muito importante que todos os professores falam inglês. Na verdade, o ideal seria que todos os funcionários falassem inglês para que a criança estivesse no meio da imersão total, né? Então, esse curso foi ofertado, teve procura e alguns professores desenvolveram a língua inglesa. Quando os professores não buscaram essa formação? É o contexto das é escolar, o raio escolariza dor acaba influenciando, envolvendo esses professores que quando eles mesmos percebem de tantas crianças já falarem esses comandos, eles mesmo já sabem instintivamente, né? Não, não pararam para estudar, mas eles conseguem, devido ao meio que proporciona essa aprendizagem. Mas nós temos curso de formação, sim.

 

DAVI: - Que interessante, você sabe dizer assim, curiosidade é esses professores que não são formados na área de de letras. Assim, a formação deles é todas em em escola de idiomas dos seus colegas de trabalho. Você sabe dizer onde eles aprenderam o Inglês? 

 

DANIELE: - Eu não entendi. Se da formação de graduação ou da língua?

 

DAVI: - Da língua.

 

DANIELE: - Todos têm que ter certificados, então se eles são autodidatas, eles precisam fazer um certificado Internacional para poder mostrar. 

 

DAVI: - Então, independente se eles aprenderam sozinhos ou se eles aprenderam numa escola de idiomas antes de ser como, mas é só com o certificado Internacional, por exemplo, um certificado de conclusão na wizards.

 

DANIELE: - Sim, há, consegue consegue. Precisa ter uma comprovação do idioma que você fala. 

 

DAVI: - Entendi.

 

DANIELE: - Se vai ser um certificado internacional, seria o ideal, o de proficiência, ótimo. Se vai ser o certificado da wizards que compriu todos os créditos, também é aceito, desde que comprove a sua fluência, né?

 

LETÍCIA: - Uhum.

 

DAVI: - E agora um pouquinho sobre a tua experiência dando aula, tua experiência com línguas, você consegue pensar e dizer de uma experiência que você viveu uma situação inusitada envolvendo o uso dessas duas línguas que você fala, engraçado, sei lá, qualquer que seja.

 

DANIELE: - Um tanto quanto constrangedora (risos). Eu aprendi o inglês americano na minha adolescência. E numa oportunidade eu fui pra Europa, Inglaterra. Inglês britânico. Quando eu aprendi, não me interessei pelo britânico e a gente ouve muito e acaba não dando importância de que, ah, a mesma coisa, só a pronúncia diferente. Quando eu fui pra Inglaterra, eu optei por me atualizar e fazer um curso lá também. E um dia no meio do curso, no meio da aula, o professor pede pra eu descrever alguém, pede pra falar algumas características, e um aluno levantou e foi a minha vez de descrever esse aluno. E eu estava cheia de mim, né? Que eu falei, ah, vou descrever a roupa, vou arrasar, né? Porque é fácil. E é um pouco já, eu um pouco insegura com o vocabulário porque a pronúncia é um pouco diferente, o americano e o britânico, as pronúncias se diferem, então tá, eu comecei, e roupa tal e blusa camiseta tal, boné tal e, de repente, quando chegou na calça eu falei, não lembro a cor, mas eu falei a cor e pants, todo mundo arregalou o olho pra mim assim e aí eu pensei comigo, falei alguma coisa errada, mas o quê? Aí uma colega cutucou assim e falou assim, Pants é cueca.

 

DAVI E LETÍCIA: - (risos)

 

DANIELE: - e no americano Pants é calça

 

LETÍCIA: - Aram

 

DANIELE: - E aí ele falou assim, você não está vendo a cueca dele, você está vendo a calça, falei, ai, sorry, e aí todo mundo olhou muito assustado porque como é que eu vou descrever a cueca do meu colega.

 

LETÍCIA: - Urum. Mesmo que tu já, tipo assim, porque isso é uma coisa que acontece né? O sotaque da gente, o jeito de falar, tipo, essa, a variação do inglês estadunidense, assim, já é reconhecivel, né? E mesmo assim eles ficaram chocados com você ter usado essa palavra.

 

DANIELE: - É, e eu não fui muito bem recebida com o inglês americano. 

 

LETÍCIA: - Então já tinha que se… a 

 

DANIELE: - Quando eu pronunciava alguma coisa no inglês americano, eu era corrigida na minha pronúncia.

 

DAVI: - Nossa. 

 

DANIELE: - Sim, o professor me corrigia. 

 

DAVI: - Que coisa. 

 

DANIELE: - Mas eu estava pra aprender, então vamos lá, né? 

 

DAVI: - Aham. 

 

DANIELE: - Então, ou seja, já, eles já não gostavam da minha pronúncia americana e ainda eu dou uma bola fora dessa, né? Acho que era o que eles queriam pra me humilhar (risos).

 

DAVI: - Antes da próxima pergunta eu queria saber da escola onde você trabalha, vocês privilegiam uma variação do inglês ou vocês pensam, não, os ingleses no mundo ou não, só o americano?

 

DANIELE: - Nós, não, devido a formação dos professores ser mais no inglês americano, nós trabalhamos mais com o americano. Se o professor tem conhecimento de certa pronúncia no britânico, no canadense ou e ele pode trazer pros alunos durante a sua aula. 

 

LETÍCIA: Uhum

 

DANIELE: - Mas a princípio, nosso forte é o americano.

 

LETÍCIA: - E aí é título de já apresentar essa outra pronúncia

 

DANIELE: - Isso

 

LETÍCIA: - Essa questão dessa outra variante, mas aí já está dizendo, oh, lá em tal lugar fala assim.

 

DANIELE: - Isso, pronunciamos assim, pronunciamos de tal forma.

 

LETÍCIA: - Uhum 

 

DANIELE: - É que durante as olimpíadas nós convidamos um colega meu da Inglaterra e ele veio, porque ele trabalhou nas Olimpíadas do Rio há alguns anos, então ele veio e foi entrevistado, ele é belga e tinha o inglês britânico, mas as crianças não sentem tanto na pronúncia quanto, parece que eles são mais, eles são uma esponja, eles captam e aprendem e transitam numa facilidade, assim, admirável. 

 

LETÍCIA: - Nossa 

 

DAVI: - Que legal. 

 

LETÍCIA: - E pra você, então quais são as maiores dificuldades e singularidades do ensino bilíngue?

 

DANIELE: - Dificuldades, eu acho que a dificuldade que eu encontro é questão mais local. A nossa cidade. E muitos pais colocam os filhos em escolas bilíngues porque querem que os filhos tenham oportunidades que eles não tiveram. E aí nós fazemos um trabalho bilíngue em que não há tradução teoricamente. Aí os pais não conseguem entender a mensagem de um recado de prova, de uma apresentação, então precisa haver essa tradução.

 

LETÍCIA: - Hum. 

 

DANIELE: - O que não seria o ideal 

 

LETÍCIA: - Então aí a gente já entra até naquela questão que eu tinha te perguntado da apresentação. Pra quem eles apresentam, né? Porque o quanto dessa parte da apresentação que faz parte do currículo inglês, o currículo americano, esses pais também vão entender. 

 

DANIELE: - Isso. Muitos pais entendem, porque eles participam do ensino dos filhos, fazem tarefas, mas quando é um recado que a gente, eh um recado de suma importância em que o pai capte 100% não podemos enviar na língua inglesa. Embora seja do currículo americano, por exemplo. Letícia: - Mesmo que tenha acontecido alguma coisa na parte da tarde que tivesse contigo, aí nesse caso tu tem que utilizar a língua portuguesa pra tu poder ser entendida mais.

 

DANIELE: - Isso. Muitos pais falam, mas nem todos, então a gente não pode partir do pressuposto de que um recado em inglês vai contemplar todos os pais. 

 

LETÍCIA: - Uhum. E as singularidades, poxa, as crianças têm uma oportunidade de transitar num idioma pro outro com a maior naturalidade. A minha filha é aluna dessa escola, ela tem seis anos e se ela tá contando uma história, ela começa a contar em língua portuguesa, recontar, né? E ela reconta em língua portuguesa e de repente vem o inglês junto e se eu pergunto em inglês ela responde ou ela me pergunta em inglês, transita, é fascinante

 

LETÍCIA: - Uhum.

 

DANIELE: - É natural, se eu colocar um desenho pra ela assistir em inglês demora tempo pra ela falar, mamy, põe em português

 

LETÍCIA: - E ainda fala mamy

 

DANIELE: - É, mamy, dady...

 

DAVI: Que legal. A gente já está caminhando pro final. Essa é a nossa última pergunta e é uma pergunta que a gente, desde o primeiro episódio tem feito pros convidados. Particularmente a gente gosta dela né. A gente quer saber o quanto da sua identidade enquanto pessoa, sujeito no mundo, tem relação com a língua que você fala, quer dizer, você consegue se ver sem alguma dessas duas línguas que você fala?

 

DANIELE: - Não. Essa já é a minha construção identitária

 

DAVI: (risos)

 

DANIELE: - Não, não me vejo sem, uma que é a profissão que eu escolhi e outra que ela faz parte de quem eu sou, né? Ela faz parte da minha identidade enquanto mulher, professora, mãe, olha a educação da minha filha, ela não me chama de mamãe ou de mãe. Né? Nem o pai dela de pai. Eh, faz parte de quem eu sou.

 

LETÍCIA: Uhum. 

 

Daniele: - O idioma, a língua inglesa, né? Me ajudou a construir a minha identidade. E a portuguesa, sou apaixonada também por ela, tanto que os nossos estudos, a pós-graduação em nível de mestrado, a gente desenvolve um projeto e aprende muito na escrita acadêmica e universitária.

 

LETÍCIA: - Uhum. 

 

DANIELE: - O que é fascinante. 

 

DAVI E LETÍCIA: Uhum.

LETÍCIA: - Tu acha que essa questão dessa língua inglesa tão constitutiva tua te faz também entender um pouco mais ou te interessar mais ou ter um outro olhar também pra língua portuguesa? 

 

DANIELE: - Com certeza. 

 

LETÍCIA: - Tipo, essa não é confrontação, mas essa convivência das duas tipo, pensando essa outra língua também reforçando a importância da língua portuguesa pra ti assim

 

DANIELE: - É, embora eu seja professora de língua inglesa, eu acho que eu tenho maior habilidade na língua portuguesa. Eh, a gente aprende muito quando a gente desenvolve um projeto né? Uma pesquisa de extensão, mestrado e aflora a língua portuguesa na gente, porque às vezes você trabalha, tem dezoito anos que eu dou aula de língua inglesa, então acaba que a gente vai direcionando e vai ficando ali e ali e, de repente, a pós-graduação te puxa, ei você está no Brasil e a língua portuguesa é a sua língua. E aí você começa a se dedicar nas duas. Uma quanto pesquisadora. E uma quanto profissional

 

DAVI E LETÍCIA: Uhum. Então tá, eu acho que era isso

 

DAVI: É isso (risos)

 

LETÍCIA: - A gente agradece demais, Dani. Muito obrigada pelos, tudo que tu ensinou pra gente aqui, por todas as trocas que a gente teve, foi muito legal te escutar. 

 

DANIELE: - Eu que agradeço, gente, foi um prazer, parabéns pelo projeto de vocês. 

 

LETÍCIA: - Obrigada, obrigada.

 

LETÍCIA: - Nossos outros convidados para esse episódio são a Débora Obutelli Lekona, professora da cidade do México e André Licona Butelli, estudante de ciências biomédicas da Universidade Nacional do México e de bioinformática na Universidade Chinesa de Hong Kong Changer. 

 

DAVI: - Débora, André, a gente agradece muito vocês terem aceito o convite. Eh, muito obrigado por estar participando aqui e sejam bem-vindos. 

 

DÉBORA: - Muito obrigada pelo convite.

 

ANDRÉ: -  Muito obrigado por nos convidar

 

DAVI: - Muito bom (risos). Eh, gente,  já começando, então esse nosso bate-papo aqui no podcast eu queria que cada um explicasse um pouquinho, vocês explicassem pros nossos ouvintes né? Quais são as línguas que vocês falam, como é que vocês começaram a estudar elas, assim, como que elas entraram na vida de vocês. 

 

DÉBORA: -Ah bom, eu falo português, inglês e espanhol. Eu falo na ordem que eu aprendi né? A Língua Portuguesa é meu idioma materno, nasci no Brasil e depois eu morei nos Estados Unidos um ano e meio e foi quando aprendi inglês, eu tinha bastante resistência com o idioma inglês, mas morando lá me ajudou a aprender, a desencolver o idioma e depois, estando nos Estados Unidos, conheci o meu marido, que é mexicano, e aí fui obrigada a aprender espanhol pra vim morar no México.

 

DAVI E LETÍCIA: (risos)

 

LETÍCIA: - André e tu? Então, eu aprendi português pela minha mãe porque ela é brasileira, então desde criança ela falou comigo em português e e eu fui aprendendo, e a mesma coisa com o espanhol porque meu pai é mexicano, então ele ensinou espanhol pra mim e eu fui aprendendo as duas línguas ao mesmo tempo. Daí eu aprendi inglês porque os meus dois pais, eles trabalham com professores de inglês. Então também desde pequeno, eles me motivaram a estudar inglês e foram trabalhando a língua comigo desde casa, daí entrei na universidade, como vocês mencionaram eu estudo na Universidade Chinesa de Hong Kong Chanzan e eu comecei a estudar chinês e o meu chinês ainda não é perfeito, eu tenho muito o que estudar, mas eu estou trabalhando nisso.

 

LETÍCIA: Nossa, muito legal.

 

DAVI: - Aham.

 

LETÍCIA: - E essa pergunta agora que a gente vai fazer é uma pergunta que foi enviada, a gente tem assim, nossa caixinha de perguntas no Instagram pra alguns episódios e essa foi uma pergunta que foi enviada já há um tempo pelo professor Elton pelo Instagram então nessa caixinha. Existe algum tipo de palavra, como por exemplo, xingamento, quando a gente está bravo que uma palavra que pesa mais numa língua do que na outra que tem mais força?

 

DÉBORA: - Quer falar primeiro, meu filho, porque tu foi chamado a atenção e motivado em três idiomas, digamos. 

 

TODOS: - Risos.

 

ANDRÉ: - Então, eu achei isso uma pergunta muito interessante, mas estudando mais a forma em que a pergunta é escrita e ele diz tipo de palavras, né?

 

LETÍCIA:  Aham.

 

ANDRÉ: - Que ele dá como exemplo os xingamentos. Então daí eu fiquei pensando, mas em que contexto você usa algumas palavras em vez de exemplos de palavras em si e a minha conclusão foi que palavras relacionadas com tradições, religiões ou cultura, obviamente tem mais peso também em um idioma que outro, for dar um exemplo em chinês eles usam a palavra que é uma palavra relacionada com o confusionismo, que a tradução literal dessa palavra seria uma coisa assim como cavalheiro. Então a pessoa que tem bons modais, que é muito amável, que tenha valores muito fortes, mas aí em chinês tem um contexto muito mais religioso, espiritual e tradicional com essa palavra do que só a tradução de cavalheiro. Então eu diria que todas aquelas palavras que tem uma relação cultural, muito enraizada na língua, elas têm mais peso numa língua que essa tradução na outra.

 

LETÍCIA: - Urhum. E tu Débora, o que que tu acha? 

 

DÉBORA: - Eu acho que existem expressões né? Características de cada idioma, mas eu no momento que eu já me considero trilíngue 100% né? Tu pode falar um palavrão assim como tu pode falar um bom elogio pra alguém né? Dependendo do teu sentir com o mesmo significado não importa o idioma. Né? Eu acho que tu sabendo expressar e tendo bem claro o que tu quer dizer, eu acho que não importa bem o idioma e sinto sempre a encontrar a palavra adequada para aquele momento, mas confesso pra vocês que antes dos meus filhos saberem português eu ficava brava no trânsito, eu adorava dizer palavrão em português porque saía lá do fundo e os caras ficavam só me olhando no trânsito entendeu? E aí quando eles começaram a entender, eles diziam: - mamãe. E eu, só tapa os ouvidos que eu estou dirigindo. 

 

DAVI E LETÍCIA: (risos)

 

DÉBORA: - E também eu e o Artur, meu esposo, a gente sempre teve um acordo no início da relação mais ou menos. Quando tinha uma coisa importante pra nós discutirmos, nós discutíamos o idioma que os dois, o idioma neutro, que era o inglês. E aí depois quando ele começou a aprender português ou eu ficar mais fluente no inglês, no espanhol, desculpa. Aí já, também fluía, entendeu? Tanto elogios, como declarações de amor, como briga de casal. 

 

DAVI: (risos)

 

LETÍCIA: - Nossa que interessante

 

DÉBORA: - É uma viagem? é uma viagem. 

 

DAVI: - É um rolê? é um rolê (risos). Nossa, é muito legal isso. A próxima pergunta que a gente separou aqui pra vocês diz respeito um pouco de como vocês aprenderam, né? Essas línguas. E o que a gente quer saber é se vocês observaram alguma diferença ou alguma dificuldade nas diferentes modalidades da língua, assim, quer dizer, quando vocês lêem alguma coisa numa outra língua ou escuta uma música ou assiste um filme, uma série. Quando vocês aprendiam, né? Essa língua, outra, que não é materna. Vocês percebiam uma dificuldade? Uma diferença? Quando vocês tinham contato com outras modalidades que essa língua se manifestava?

 

DÉBORA: - É que tudo isso é muito interessante, eu sempre me questionei o entender o que se passa lá no cérebro, né? Eu digo para as pessoas, geralmente, por exemplo, quando tu vai contar de um a dez, não importa quantos idiomas tu fale, a tua primeira reação é contar no teu idioma materno. Entendeu? O cérebro, assim, nesse lado ele acorda, pelo menos no meu caso que eu não sou matemática, né? Então eu posso estar contando pros meus alunos em voz alta em inglês, porque eu trabalho inglês, mas quando eu conto só pra mim eu uso o português. Né? E aqui a questão de como tu interpreta, como tu vai aprendendo, eu digo que são gavetinhas né? que tu vai, tu vai abrindo. Mas é justo o que eu tento fazer no momento que eu ensino, tanto português pra mexicanos, como inglês, da maneira mais natural possível para a pessoa sentir fluência natural da língua. Esse é o papel mais importante. Eu no caso, pra mim aconteceu algo muito importante, porque apesar de eu aprender português no Brasil e fiz até faculdade, tudo, eu comecei a compreender melhor muitas coisas desde o porquê, desde a gramática do meu idioma, depois que eu tive que ensiná-lo para estrangeiros.

 

LETÍCIA: Muito interessante.

 

DAVI: - Nossa! Quando tu tá do outro lado, tu tem uma visão bem interessante do teu próprio idioma, entendeu?

 

DAVI E LETÍCIA: - Uhum

 

DÉBORA: - Então isso é um papel significativo que eu sinto muito prazer em poder vivê-lo.

 

LETÍCIA: - E tu André, o que tu acha dessa, se tem algum desses idiomas que alguma dessas modalidades se apresenta de uma forma diferente né?

 

ANDRÉ: - É, então, pode esclarecer um pouco o jeito que vocês querem dizer com diferença ou dificuldade, assim.

 

LETÍCIA: Uhum. Entre os idiomas, por exemplo, tu sente que algum deles a leitura flui melhor, a construção do sentido na leitura, por exemplo, no espanhol ou no português flui melhor do que no inglês ou quando tu escuta uma música ela, automaticamente tu percebe ela mais fácil ou mais difícil, em algum desses idiomas existe alguma diferença entre eles ou eles já estão tão internalizados que é automático. O que tu acha? 

 

ANDRÉ: - Ah tá, entendi. Existe uma diferença, sim, especialmente pra mim, pelo menos talvez pelo que eu faço com perfeição e pelo que eu estudo é muito mais fácil trabalhar em inglês, a maioria das ciências se ensinam e se publicam em inglês né? e a maioria da pesquisa que é feita pelo menos na área médica é feita em inglês, então daí para mim, inclusive quando eu tenho que escrever uma tarefa em espanhol da escola, e eu acabo pensando primeiro em inglês, tentando organizar minhas ideias talvez em inglês e pesquisando na internet em inglês, e daí depois eu faço a tradução pro espanhol ou pro português ou que seja. Mas daí acontece o oposto quando eu estou num ambiente mais social ou mais casual, né? É mais fácil conversar em espanhol ou conversar em português ou entender piadas ou escutar música em espanhol em português, como conectar com a música deveria dizer. 

 

LETÍCIA: - Hum, uhum.

 

ANDRÉ: - Do que em inglês. 

 

LETÍCIA: - Nossa, é, isso então vai acabar nos levando também, de certa forma, pra próxima pergunta né. Inclusive, essa separação aí que tu mesmo já fez, assim, a questão de uma língua que se encaixa mais no teu trabalho, na tua profissão, né? Que é: vocês sentem que as personalidades de vocês mudam quando vocês estão usando uma língua ou outra, falando, né, uma língua ou outra?

 

DÉBORA: - Bem interessante, boa pergunta. 

 

ANDRÉ: - Eu achei quando você compartilhou as perguntas comigo, eu achei essa especialmente interessante porque eu não tinha pensado nisso, né? Nunca pensei se mudava ou não a minha personalidade e daí eu comecei a perguntar pros meus colegas, pros amigos, pra minha namorada, as pessoas que me conhecem, né? Se se eles percebiam a diferença na minha personalidade e, para minha surpresa a resposta foi sim. Então, ehh… eu fiquei muito pensativo porque eu nunca tinha percebido que mudasse ou que fosse drástico. Então, eu fiz um pequeno experimento: eu, como bom científico, – só quis testar rapidinho: "será que muda mesmo?" – fui na internet que tem esse, um teste de personalidade que tu pode fazer que é muito popular: "as 16 personalidades diferentes".

 

DAVI: - Ah, MBTI, não é?

 

ANDRÉ: - É, exatamente, esse aí. Então, eu resolvi o teste três vezes, uma vez em Espanhol, uma vez em Português e uma vez em Inglês.

 

LETÍCIA: - (Risos) Nossa!

 

DAVI: - (Risos) Não acredito! 

 

DÉBORA: - É bem a cara dele fazer isso!

 

LETÍCIA: - A cara dele mesmo!

 

ANDRÉ: - E pode ser um experimento meio bobalhão, fazer isso né? Mas acontece que sim. Deu dois resultados diferentes.

 

LETÍCIA: - Nossa!

 

ANDRÉ: - É…

 

LETÍCIA: - Nossa!

 

ANDRÉ: - Então…

 

DÉBORA: - E qual idioma teu é mais legal?

 

(Todos riem)

 

ANDRÉ: - Eu sei que você não gosta de mim, né… mas não precisa falar pra todo Brasil.

 

(Risos)

 

ANDRÉ: - Eh, então, por exemplo… Entrando um pouquinho mais em detalhe, em Português e em Espanhol o teste deu a mesma personalidade.

 

DÉBORA: - Olha!

 

ANDRÉ: - Daí em inglês deu uma personalidade diferente.

 

LETÍCIA: - Nossa!

 

ANDRÉ: - Eu acho que tem a ver com o que eu estava dizendo, quando eu penso em Inglês, quando a minha mente está funcionando em inglês é bem mais enfocada no meu trabalho.

 

DÉBORA: - Uhun.

 

ANDRÉ: - Então, a personalidade que deu para o inglês foi que eu gosto de debater, de botar ideias, de discutir, de pensar muito. E a personalidade que o teste me deu quando eu fiz em Espanhol e em Português foi a mesma e foi bem mais relacionada com o sentimento e conexão com pessoas e bem menos racional, também com ser mais extrovertido em Espanhol e Português do que a personalidade em Inglês.

 

DÉBORA: - Muito legal! 

 

LETÍCIA: - Nossa! Que interessante!

 

DÉBORA: - É, mas eu acho que está ligado também com a relação materna e paterna…

 

DAVI: - Sim!

 

LETÍCIA: - Sim!

 

DÉBORA: - Talvez, se o pai fosse inglês né… Americano, talvez o Inglês ia dar diferença na vida dele, né… Que viagem!

 

DAVI E LETÍCIA: - Uhun. Uhun.

 

LETÍCIA: - E tu, Débora?

 

DAVI: - Eu tô pensando aqui… aí desculpa, gente… eu tô pensando porque quando eu fiz esse teste o meu deu aquele ENTJ, não lembro como que é o nome… Commander o nome, mas eu fiz o teste em inglês. (Risos) Porque na época eu não sabia se existia tradução, não sei… só sei que o primeiro que apareceu eu fiz, era a língua que eu sabia ler e eu tô me perguntando agora "se eu fizesse o teste de novo em Português de novo o que que não vai sair?"

 

DÉBORA: - Vamos todos fazer o que o André fez.

 

LETÍCIA: - Aham… vamos todos fazer esse experimento!... 

 

DAVI: - É uma boa!

 

LETÍCIA: - E tu Débora? Tua personalidade muda?

 

DÉBORA: - Não, comigo eu acho que não, porque… também por causa do meu trabalho, né… No Kinder eu sou professora de Kinder e a gente trabalha com inglês o dia inteiro. E não tem como uma educadora ter uma personalidade na sala de aula com as crianças de 3 a 6 anos e ter outra personalidade falando o Português né… Bom, na verdade eu tenho tão emergido essa parte que eu sinto que não muda, né… Agora, o que muda e o que a gente sente, o prazer, é quando tu mora fora assim…quando tu pisa no Brasil e tu poder falar teu idioma e tu escutar todo mundo falar. Dá um prazer uma satisfação interna que não tem preço!

 

(Risos)

 

DÉBORA: - E aí tu fala, porque por mais que tu tenha grupos de amigos no país que tu more, que fale teu idioma né… Quando tu chega no teu próprio país e aí tu… naquela hora do avião aterrissar e o piloto dizer "tamos chegando no Brasil, a temperatura em São Paulo é tal…" daí tu já se arrepia todo. É bom demais!

 

(Risos)

 

DÉBORA: - E aí tu chega na Polícia Federal e eles já dizem "Bom dia!" ou "Boa noite!*, nossa senhora!... Que…! É muito bom!

 

DAVI: - Aí, aí… Eu nunca viajei fora, mas só de você falar eu me senti também num relaxamento.

 

(Todos riem)

 

DAVI: - Porque eu passei por uma experiência de uma imersão em língua inglesa aqui no Brasil mesmo… e eu não aguentava! Era uma semana só de imersão e eu não aguentava mais falar inglês, eu não queria ouvir as pessoas falando inglês! Era num lugar onde até os funcionários da limpeza falavam inglês, então, assim, eu não queria, sabe? Aí foi eu pegar o avião também pra voltar, porque foi em outra estado… Aí! Foi tão gostoso, assim, poder falar, me expressar! Eu não podia falar Português, sabe? Éh, então… 

 

DÉBORA: - Legal!

 

DAVI: - É, foi muito legal, mas eu entendo o que você está falando… achei engraçado, a sensação que eu tive ao ver você falar dessa sua história.

 

DÉBORA: - Sim! Apesar de eu estar aqui há 23 anos e o Espanhol já ser parte da minha diária e eu não ter essa questão da personalidade, né… mas o coração bate mais forte com certeza.

 

LETÍCIA: - Bom, Davi…

 

DAVI: - É, então como a gente tinha combinado, a gente vai ter um bloco agora só para perguntas direcionadas para a Débora e… Débora, queria que você contasse um pouco sobre a turma ou as turmas que você trabalha. Você mencionou que é para o Kinder que você dá aula, é o Kinder Garder, né? O jardim de infância. 


DÉBORA: - É isso. Na verdade, a minha vida profissional no México é um pouco variada, é uma cena até bastante interessante porque eu me formei em pedagogia e no outro dia já peguei o avião, a Letícia lembra bem, no México.

 

LETÍCIA: - Sim.

 

DÉBORA: - E, imagina isso, né? 1999 não tinha todas as redes sociais como tem agora, no mesmo voo meu para a Cidade do México, eu conheci o método Trainer dum centro de idiomas da Cidade do México. Não sei se eu posso falar, mencionar qual a escola.

 

LETÍCIA: - Pode, não tem problema.

 

DÉBORA: - Berlitz. Acho que tem no Brasil também. É uma rede de idiomas no mundo inteiro. Então, eu cheguei aqui já com trabalho. Então, eu comecei a trabalhar aqui, dando aulas de inglês e Português para estrangeiros. Aí fui me adaptando e conquistando o meu lugar aqui. Então, depois eu dei 11 anos de aula de Português para executivos da empresa The Walt Disney Company. Isso foi super gratificante e… estando aí conversando com meus alunos, diretores e tal, eu soube que também no México existem muitas escolas bilíngues. Então, aqui a  maioria das escolas particulares, digamos uns 90% das particulares, a criança aprende 50% do dia em inglês, 50 % do dia em espanhol. Todas as matérias que ela vai ter no caso se fosse no Brasil, Português, Matemática, Geografia, etc… ela tem em Inglês. E foi aí que eu consegui um campo bom de trabalho para mim com o idioma inglês e entrei nessas escolas bilíngues. Mas aí tu vai crescendo né… profissionalmente. No momento,eu já estou em uma escola que não é nem bilíngue, ela é considerada 80% em inglês.

 

DAVI: - Olha só!

 

DÉBORA: - Então, no caso, da aérea que eu tô que é o Kinder Garder, eu começo a dizer que meus filhos vão envelhecendo e eu vou baixando de série.

 

(Risos)

 

Porque eu realmente adoro crianças. É uma turma, no momento, eles são os menores da escola Kinder 1 e eles tem 3 anos de idade. Eu estou com eles das 9 horas da manhã há 1:30 da tarde e eu só falo inglês com eles.

 

DAVI: - Olha só!

 

LETÍCIA: - Então é só inglês.

 

DÉBORA: - Nós estando no México. E eu acho que também, por isso que o André tem muita relação do inglês com os estudos, porque ele também teve oportunidade de ir em escola bilíngue a vida inteira. E para ele o inglês era muito relacionado com estudar, sabe? E foi uma das razões pela qual eu e meu marido decidimos morar no México, para dar para nossos filhos um bom nível de educação, nesse sentido assim, poxa tu poder fazer esse click dos idiomas já abre várias portas, né?

 

LETÍCIA: - Uhun.

 

DÉBORA: - No Brasil tem duas ou três por cidade, mas são caríssimas.

 

LETÍCIA: - É, são caríssimas. Uhun.

 

DÉBORA: - E o meu projeto de vida que eu digo que um dia quem sabe, né… aqui no México é tão comum acessórios de escolas bilíngues que eles têm também o centro japonês, tem o liseu Francês, tem o colégio Alemão. E aí nessas escolas, eles emergem muito a questão da cultura do país, o idioma – obviamente deste país –, e, além do Colégio Alemão ele tem Alemão, inglês e espanhol no currículo. E o meu sonho seria abrir aqui o Liseu Brasil e México, né…

 

DAVI: - Ohhh!

 

DÉBORA: - Eu preciso conhecer um empresário rico. E aí vamos bora!

 

(Risos)

 

LETÍCIA: - Que queira investir no teu projeto, né?...

 

DÉBORA: - Éh, porque também, trazer muito poderia trazer muito. Assim, no caso da minha, os pais percebem muito a diferença dessa alegria que a gente tem e, pelo menos no meu caso, eles aqui tem um carisma especial com os alunos. Cara, é muito também de cada, né? Mas eles sentem esse saborzinho que eu digo que é muito da educação, tanto familiar como educação no Brasil que eu tive e se vê esse plus na escola.

 

LETÍCIA: - Pensando assim… então, tipo, na escola as crianças só falam inglês, é isso? Sempre? 

 

DÉBORA: - Na escola! Inclusive no recreio, eles falam inglês entre eles.

 

DAVI: - Olha só!

 

DÉBORA: - A escola em que eu estou é uma escola internacional, né… Ela é mais ligada pra cultura britânica; a dona, inclusive, ela é inglesa… 

 

LETÍCIA: - Hummm, nossa, que interessante também, porque a gente pensa que o inglês que tu vai estar trabalhando aí é o estadunidense, né?

 

DAVI: - Sim

 

DÉBORA: - É, mas as escolas elas tentam, também, aqui no México, apresentar os dois tipos de inglês pros alunos

 

LETÍCIA: - Hummmmm…Uma mesma escola, ou não?

 

DÉBORA: - Uma mesma escola. 

 

LETÍCIA: Nossa, que interessante

 

DÉBORA: - Tanto na escritura como… muitas outras questões, de festas, celebrações, né?

 

DAVI: - Isso é muito interessante

 

DÉBORA: - E… Mas no caso da minha, por exemplo, o uniforme é totalmente estilo inglês. É muito bonitinho. Eles vão de gravatinha e tudo. 

 

(Risos)

 

DAVI: - Que engraçado! A gente vê mais diferente. né?

 

DÉBORA: E os princípios também. E os princípios de…  de morais, assim, de…né? Respeito, tudo é muito da cultura inglesa.

 

LETÍCIA: - De valores…

 

DÉBORA: - Isso. E o feedback também, pros pais, o tratamento pro pessoal, assim, pra professor… tipo assim, eu já trabalhei… é, essa é a sexta escola em que eu trabalho aqui no México… Nossa, eu sinto uma diferença enorme na organização, assim, que eu acho que nem no Brasil eu encontrei uma escola com tanta organização, né, como aqui. Então, gosto muito dessa escola.

 

DAVI: - Aham, isso é curioso, né, porque nesse mesmo episódio a gente falou com a Dani, e ela trabalha numa escola bilíngue aqui no Brasil e ela tava comentando que… o foco é totalmente pro inglês americano, né. Eu acho que isso diz muito respeito sobre o Brasil, né, de como que o Brasil olha pra essa outra língua. Como o Brasil entende. Ela falou que às vezes eles falam algumas coisas sobre o inglês britânico, mas o que prevalece, o foco principal, é o inglês americano, né. Eu achei isso muito interessante.

 

DÉBORA: - Ahn… E por exemplo a gente pode ter a pronúncia do inglês americano pros alunos, né, se acostumarem a escutar todo tipo de sotaque. Mas na papelada, nos boletins e tudo, né, a gente tem que usar o inglês britânico. 

 

LETÍCIA: - Humm…

 

DAVI: - Olha só.

 

DÉBORA: Nos documentos escolares, digamos.

 

DAVI: Eu acho que isso é uma coisa do Brasil mesmo porque… muito difícil, assim, das escolas bilíngues que eu já ouvi falar que têm aqui em Campo Grande ou em todos os estados em que eu morei. É sempre assim: “ah, inglês é americano, inglês americano”. Isso é bem interessante.

 

DÉBORA: É, mas tem também uma questão de mercado, né, vai saber…

 

LETÍCIA: Sim. Pode ser também, né.

 

DAVI: - É verdade.

 

LETÍCIA: - Mas eu acho que também tem uma questão, como tu trouxe, mesmo, a questão cultural, entendeu, assim? Então, que o foco cultural talvez esteja mais associado à questão dos Estados Unidos e não nas possibilidades do idioma, entende o que eu quero dizer? Nas possibilidades do inglês, talvez seja alguma questão assim. E, tipo assim, se a gente for pensar na preparação dos professores, né, por exemplo, os professores que são contratados pra trabalhar nessas escolas bilíngues daí, eles… como que funciona a comprovação da certificação desse idioma? É uma formação diferente que eles têm que ter? Como que funciona aí no México?

 

DÉBORA: - Ahn, é que assim, 



DÉBORA: - …Professoras da Irlanda, do Canadá, dos Estados Unidos, de outras partes da Europa, muitos da Holanda e assim. Então isso também dá uma mentalidade global.

LETÍCIA: - Aham. 

 

DÉBORA: - E você escuta diferentes sotaques de inglês diferentes de uma vez. 

 

LETÍCIA: - Nossa, muito interessante.

 

DÉBORA: - É muito, muito legal. Porque eu tenho filhos de amigas minhas, brasileiros, que estavam em outras escolas e aí escutam eu falar da experiência, do trabalho no ITN, os valores na escola e tudo, e eles vão conhecer e ficam justamente encantados desde a organização. Eu digo – eu não sei se as mães estão trabalhando no Brasil – eu digo pra elas: “Gente, vocês não tem ideia!”. Tu chega na – a gente usa aqui cafeteria – mas na lancheria na lanchonete da escola, não me lembro em português…

 

LETÍCIA: - Cantina. 

 

DÉBORA: - Na cantina! Você pede um lanche e eles estão com o prato e o talher de verdade. Você tem noção do que é isso? Tipo assim, agora já está toda essa onda de zero plástico no mundo inteiro, mas aí eu já estou aí faz seis anos, não é? Então pra mim foi uma baita diferença, eu pedi um sanduíche e o meu sanduba vem num prato branco de porcelana maravilhoso! Nossa senhora, que delícia! Desde isso, entendeu? É desde isso. Desde essa questão a atenção dos pequenos detalhes. 

LETÍCIA: - Agora acho que a gente vai passar para o outro bloco. A vou pedir pra Débora ficar um pouquinho aí e a gente vai conversar um pouquinho mais com o André. 

 

DÉBORA: - Vai lá, meu filho.

 

DAVI: - André, a pergunta que tem aqui pra você, a primeira, é para você falar um pouco sobre essa essa tua experiência. Como é que foi, você enquanto aluno de escola bilíngue? A gente queria que você contasse um pouco. 

 

ANDRÉ: - É, então, foi diferente. Eu acho. Bom, não sei, não é? Porque a maioria da minha formação foi numa escola assim, então não posso dizer exatamente como é que é, se essa é muito diferente ou não. Mas, metade do dia a gente estudava e até metade do dia a gente estudava em inglês, certo? E uma coisa que eu lembro bem era que meus professores de inglês, a maioria eram professoras, mas elas focavam muito em você poder falar em inglês mais do que escrever. Acho que escutar inglês faz parte de você poder primeiro falar bem, conversar bem em inglês, e daí você pega um sentimento orgânico de como escrever depois. 

 

LETÍCIA: - Aham. 

 

ANDRÉ: - Estava refletindo sobre isso outro dia. E fora disso, estudar numa escola bilíngue foi formativo. Eu acho que foi o que me deu vontade de explorar mais línguas e mais culturas depois. Ter essa aproximação desde pequeno com uma língua diferente. Porque uma coisa que a gente não presta muita atenção, é que todas as línguas carregam uma cultura. Claro que você aprende uma língua por trás, vem todo um contexto histórico e cultural que está escondido no jeito que você fala, nas expressões que você tem. Então, ser exposto a outras línguas desde pequeno, eu acho que acordou em mim a vontade de explorar, mais línguas e mais culturas e continuar aprendendo depois, na minha vida.

LETÍCIA: - E como que circulava? Porque, por exemplo, você falou da questão de que você tinha as duas línguas. Diferente, por exemplo, da experiência da Débora, que ela estava relatando que a escola o tempo todo é em inglês. E era o mesmo conteúdo que você tinha em espanhol, você tinha depois em inglês, a mesma disciplina ou era diferente, eram coisas diferentes? E aí também a gente emenda na pergunta de se você e os teus colegas usavam também esse outro idioma, qual deles, nessas interações de hora de intervalo, hora de saída, essas coisas. Como era esse dia a dia? 


ANDRÉ: - Então, quanto ao conteúdo das aulas, diariamente a gente estudava em espanhol a maioria das matérias e o resto do tempo era para estudar inglês. Então, por exemplo, matemática, história, geografia, coisa do tipo, a gente tava em espanhol e aí gente passava a outra metade do dia estudando inglês enquanto eu estava tentando conversar em inglês, vendo vídeos em inglês, ou a gente fazia muitas apresentações e a gente preparava muito para fazer roda de speaking. Então falar, preparar já seja poesia ou algum tema interessante. Daí se apresentava na frente de toda a aula ou, inclusive, às vezes na frente de toda a escola. Então, eu diria que a parte de inglês não era tão relacionada a aprender alguma matéria, se não era aprender inglês, praticar inglês. Então daí o que acontecia, quando a gente saia da aula, a gente estava cansado de conversar em inglês. A maioria da convivência fora da aula era em espanhol mesmo. E é isso. 

 

DÉBORA: - Eu acho que na tua época tu tinha science spelling, não? Grammar, no?          


ANDRÉ: - Eu não lembro de ter estudado nada em inglês, todas as coisas que eu lembro de ter aprendido, de matemática, de história e ciências eu lembro de ter estudado em espanhol. Mas, também, eu era uma criança. Pode ser que eu esteja errado. 

LETÍCIA: - A memória prega peças, não é, André?

 

DÉBORA: - É que, na verdade, se a gente parar para analisar como educadora, eu digo para vocês: mudou muito tudo, não é? Quando o André estava na época primária, não havia nem Google. 

 

LETÍCIA: - Sim…


DÉBORA: - Tanta facilidade hoje em dia, não tinha nem o WhatsApp. Então, hoje em dia tem muito mais acesso para essa gurizada. Hoje em dia é muito mais fácil, inclusive. Tem gente que usa um aplicativo e aprende o idioma dependendo da facilidade que você tem para aprender idiomas. Essa questão educativa mudou bastante do que foi. E, parece que foi ontem, o que mudou da época do André para hoje. 

 

LETÍCIA: - É que mudou muito rápido também, acelerou muito essas transformações dessas interações educativas. 

 

DÉBORA: - E inclusive depois da pandemia. 

 

LETÍCIA: - Sim. 

 

DÉBORA: - Abriu muitas portas para o ensino…

 

LETÍCIA: - Remoto. 

 

DÉBORA: - Não é? Que antes a gente nem pensava. 

 

DAVI: -  E, André, você falou na primeira pergunta que eu fiz nesse bloco, que ter esse contato com essas línguas te fez querer aprender outras. Mas, o que a gente pensou também para essa pergunta, é se esse contato plurilíngue, português, espanhol e inglês, de alguma forma facilita que você aprenda outras línguas? Quer dizer, você está aprendendo o mandarim. Você acredita que esse teu contato plurilíngue facilitou, está facilitando essa aprendizagem de outra língua? 

 

ANDRÉ: - Não, claro. Eu acho que facilita muito. Inclusive, eu não quis mencionar porque no começo vocês perguntaram que línguas eu sei falar, e, na verdade, eu também estudei francês vários anos. Só que eu acabei não praticando, deixei de lado e não consegui realmente dominar essa língua, então não vou dizer que falo francês porque seria muito falso. Eu digo isso porque eu lembro, quando eu estava estudando francês, que muitas das palavras eu reconhecia, reconhecia porque eu sabia o inglês. Muitas das palavras repetem ou são muito similares. E então foi mais fácil conseguir um vocabulário amplo porque eu já tinha vocabulário de espanhol, vocabulário de inglês e vocabulário de português. Então já são muitas mais palavras que tu sabe e também existem palavras que você não aprendeu em francês mas é muito similar com a sua raiz anglosaxona (anglosaxónico) ou latina, tu sabe o que significa. Mas aí quando eu comecei a aprender chinês foi uma experiência muito diferente. Porque não tem nada assim nas outras línguas que eu sabia. 

 

LETÍCIA: - Haha (risos). Aham! 

 

ANDRÉ: - Realmente não tem nada a ver. Nem a escrita, nem a pronúncia, nem a gramática. Especialmente falando de gramática, a gente está acostumado com conjugações dos verbos dependendo do tempo que está tentando expressar, mas em chinês não existe esse tipo de conjugação. Em mandarim. Cantonês é muito similar, mas em Mandarim, especificamente, não existe. Então você tem que mudar o jeito que você pensa para poder se expressar corretamente em mandarim. Tem que mudar a tua cabeça cem por cento. E aí onde eu acho que facilitou um pouco já ter aprendido outros idiomas antes. Por quê? Mudar tua cabeça acontece a cada vez que você aprende um novo idioma. Só que, mudar do espanhol para português não é tão difícil porque são muitos similares. De mudar de espanhol para inglês é um pouco mais difícil mas também são similares. Mas aí já crescer com essa flexibilidade e ser capaz de pensar de uma forma diferente de organizar as palavras diferentes facilitou aprender chinês um pouco. Desde essa perspectiva. Não sei se fui claro com o que eu quis dizer. 

 

LETÍCIA: - Não, sim! Acho que foi super interessante quando você fala sobre a questão do pensamento, é bem isso que a gente que estuda língua, estuda Letras – eu e o Davi – que a gente tem: é uma mudança de pensamento, mesmo, para ter acesso a construção do sentido nessa outra língua que não tem nada a ver com as outras. 

 

DÉBORA: - O Dedé tem uma experiência trilegal, por exemplo. Imagina só, ele estava lá na China e chega uma família brasileira para pedir informação na universidade. 

 

LETÍCIA: - Nossa! 

 

DÉBORA: - Conta aí rapidinho Dedé como é que foi? 

 

DAVI: - Conta então. 

 

LETÍCIA: - Divide com a gente André. 

 

ANDRÉ: - Não sei se é muito relevante para o que estávamos falando…

 

DÉBORA: - Mas é que é legal porque eu acho que valoriza a questão de estar do outro lado do mundo e tu saber o idioma, é uma coisa que eu acho sensacional isso eu acho que abre portas.  

 

LETÍCIA: - E existe uma coisa que a gente chama que é o conceito de políticas linguísticas que é criar essa solidariedade, essa sensação de solidariedade quando tu encontra uma pessoa do lugar que tu nem esperava, que fala a tua língua. Então divide aí com a gente, André. Vamos aí, conta pra gente essa história. 

 

ANDRÉ: - Então, quando eu estava na China eu estudava de manhã, mas também trabalhava de tarde e um dos trabalhos que eu fazia, eu era guia da universidade para novos alunos que queriam se inscrever. Então, a minha chefe, que era da divisão de admissões na universidade, disse que uma família de colombianos iriam vir para a universidade, que se podia dar um passeio e se podia mostrar e explicar em espanhol e tudo mais. Isso é fácil, não tem problema. Cheguei com eles, me apresentei em espanhol, comecei a falar em espanhol. E eles ficaram me olhando assim meio esquisito.Tipo “Que que você está falando?”. Eles entendiam um pouco do que estava dizendo, mas eles estavam confusos do porquê eu estava falando espanhol com eles. 

 

LETÍCIA: - Aham. 

 

ANDRÉ: - Eu percebi o olhar e daí eu perguntei inglês: “Vocês estão me entendendo? Vocês falam espanhol?”, e eles: “Não, a gente fala português”. 

 

LETÍCIA: - Haha (risos).

 

ANDRÉ: - Então aí eu entendi a confusão que a minha a minha chefe chinesa não sabia distinguir bem países da Latino América.

 

LETÍCIA: - Nossa, cara!

 

ANDRÉ: - É! E aí eu disse: “Eu também sei falar português”. 

 

LETÍCIA: - Foi abrindo as gavetinhas, que nem disse a tua mãe, foi puxando o idioma depois do outro até encontrar o que cabia ali.

 

ANDRÉ: - Isso aí. E foi isso, aí eles ficaram muito contentes, eu acho, de achar alguém na universidade que se conectasse com eles. 

 

LETÍCIA: -  É essa sensação de solidariedade, de sentir acolhido assim. É isso é bem interessante. Bom, então agora a gente vai pra nossa última pergunta, que é uma pergunta que a gente sempre faz para todo mundo que participa, todos nossos convidados do podcast que é o quanto das identidades de vocês como pessoas, como sujeitos no mundo, tem relação com as línguas que vocês falam. E se vocês conseguem se imaginar sem alguma dessas línguas. 

 

DÉBORA: - Identidade em que sentido? 

 

LETÍCIA: - De quem tu é, da pessoa que tu é, Débora hoje. Como que  essas línguas que tu fala, as três, como que elas te constituem, entendeu? Se você se considera identificada com todas elas.  

 

DÉBORA: - Eu acho que eu me considero, eu acho que elas já estão imersas em mim. Tanto essa questão da língua como da cultura em si, eu não me sinto mais nem cem por cento brasileira, nem cem por cento – óbvio que eu não vou ser cem por cento mexicana –, mas assim, desses três idiomas, eu no momento eu adoro morar onde eu moro, porque eu tenho oportunidade de ver essa diversidade cultural e participar de tudo que esse mundão tem porque é uma coisa infinita, é uma experiência significativa e essa mentalidade global é realmente satisfatório. Então eu motivo. Eu quero convidar todo mundo. Aprendam quantos idiomas vocês puderem. Eu lembro quando o André era pequeno e ele ia lá na Disney, meus alunos, os caras presidente e vice-presidente da empresa diziam: “André, senta nessa cadeira. O dia que tu for presidente da Walt Disney, o teu salário vai valer três vezes o meu porque tu fala três idiomas”. Os caras estavam aprendendo português comigo, entendeu? Então, realmente, não se limitem. Não sejam cabeças fechadas e abram as gavetinhas e a mentalidade. Talvez você não tenha oportunidade de viajar, mas hoje em dia essa aprendizagem remota, tu clica na internet, tu vê um vídeo no idioma que tu quer, aproveitem. Aproveitem mesmo. 

 

LETÍCIA: - E tu André? 

 

ANDRÉ: - É claro que eu acredito que é impossível eu me ver sem falar algum dos idiomas que eu tenha aprendido. Não só dos três idiomas que eu aprendi desde criança, também inclusive daqueles que eu aprendi mais adiante na minha vida. Eu acho que é impossível eu me imaginar sem alguma das línguas que eu tenha aprendido, não só as línguas que eu aprendi desde criança, mas também aquelas que eu tenho aprendido depois em outros anos da minha vida. Claramente as que eu aprendi desde criança são parte da minha personalidade desde sempre, é quem eu sou, é parte de como eu cresci, do que eu aprendi. Mas inclusive aquelas que eu acabei aprendendo depois como, por exemplo, o chinês, com elas eu aprendi sobre uma nova cultura, que trouxe novas ideias para minha identidade, para minha ideologia. Por exemplo, quando eu morei na China, eu aprendi sobre confucionismo, taoísmo e essas novas ideias grandiosas, espirituais e morais da filosofia chinesa e de como eles moram e eles convivem, eu acabei incorporando na minha própria vida.

 

LETÍCIA: - Aham.

 

ANDRÉ: - Então pelo fato de que todas as línguas estão intimamente conectadas com uma cultura, com uma ideologia, um falante dessas línguas acaba absorvendo, ainda se não quiser, tu acaba absorvendo parte dessa moralidade cultural. Fica impossível a gente se imaginar sem essa língua depois na sua vida. Então eu estou muito agradecido de ter aprendido de  ter tido uma família que apoiou e me motivou a aprender e a explorar todas as as diferentes línguas que eu tenho aprendido. E a mesma coisa que a minha mãe falou, eu acho que é muito importante e muito legal, muito interessante estudar idiomas e motivaria qualquer pessoa que está pensando em explorar, em ir adiante e não ter medo. Não é tão difícil como parece. 

 

LETÍCIA: - Gente, muito obrigada. Um prazer conversar com vocês. Escutar vocês e obrigada por tudo que vocês trouxeram, que nos ensinaram. Quando a gente pensou nesse episódio eu já tinha pensado: “Eu preciso chamar esses dois” porque eu queria muito escutar vocês dois falando sobre isso. Então, eu agradeço particularmente também por vocês terem aceito e foi muito legal, não é, Davi? 

 

DAVI: - Nossa, com certeza! É muito bom dividir, conhecer, na verdade, um pouco de outras realidades. Eu acho que esse papo foi bem produtivo nesse sentido. É o outro, é uma realidade outra do que a gente sabe, eu acho sempre muito bom. 

 

LETÍCIA: - Espero que vocês tenham gostado assim como a gente. 

 

ANDRÉ: - Não, muito obrigado pelo seu tempo, por nos convidar, por nos escutar e muita sorte com o podcast! É muito legal, eu ouvi alguns temas muito interessantes e que seja um sucesso. Tudo de bom para vocês.

 

LETÍCIA: - Muito obrigada, André.

 

DAVI: - Obrigado! 

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