Transcrição T2 Episódio 04 - Linguarudes sem Fronteiras
HENRIQUE: Hey, everybody! Este é o quarto episódio da segunda temporada do LínguasCast, o seu podcast sobre linguagens, identidades e otras cositas más. O título do episódio de hoje é: “Linguarudes sem fronteiras”. Let’s que vámonos!
CONVIDADOS FALAM: eu tagarelarei, tu tagarelarás, ele tagarelará, nós tagarelaremos, vós tagarelareis, eles tagarelarão.
MARIANA: Oi, oi, tagarelas! Sejam bem-vindos a mais um episódio do meu, do seu, do nosso LínguasCast! Eu sou a Mariana Piell.
LETÍCIA: Olá, linguarudos, linguarudas e linguarudes! Sejam bienvenidos ao quarto episódio da segunda temporada do LínguasCast, eu sou a Letícia!
MARIANA: O tema deste episódio é o Campão sem Fronteiras, um evento cultural de idiomas, idealizado por Laís Henrique, que ocorre mensalmente no Capivas. Agora vamos falar com a Laís Henrique, que é a idealizadora e organizadora do evento. Oi, Laís, fala pra gente com o que você trabalha e onde.
LAÍS: Eu sou professora de inglês. Eu trabalho no estado como professora e… é isso.
MARIANA: Laís, a gente gostaria de saber como que você pensou no evento e como foi o processo de organização dele, se foi difícil, como pensou no espaço, que tipo de planejamento você precisou fazer…
LAÍS: Bom, eu tive a ideia do evento de uma dificuldade minha que depois de muitos anos estudando inglês, mesmo dando aula de inglês nas escolas, eu tinha dificuldade de encontrar pessoas que falam inglês e ter essa facilidade de estar mantendo sempre a conversação, então… eu já tinha visto eventos parecidos com esse em outros estados, até em outros países também, quando eu fiz intercâmbio, e aí eu queria trazer para cá, para Campo Grande, porque realmente não tem um evento dessa maneira aqui, e… bom, essa é a quinta edição do Campão sem Fronteiras, né.
MARIANA: Eu queria saber como que tem sido a participação das pessoas desde a primeira edição, você tá satisfeita com o andamento do Campão?
LAÍS: Bom, na primeira edição, obviamente, como era uma novidade, veio mais gente, mas eu sinto que as pessoas que vem nas edições que vão passando são sempre as mesmas, né. Traz um amigo ou traz outro conhecido, algumas pessoas que vêm para conhecer, mas fica com vergonha um pouco, de conversar, mas sempre eu tô satisfeita com o público.
MARIANA: E quais línguas você fala? Você pratica todas elas aqui?
LAÍS: Eu falo fluentemente apenas o inglês, mas eu já estudei alemão e francês, então eu entendo um pouquinho, mas realmente não pratico.
MARIANA: E, Laís, quanto da sua identidade como pessoa, sujeito no mundo, tem relação com as línguas que você fala e usa? Você consegue se ver sem alguma delas?
LAÍS: Não, porque eu vi, eu sinto, que o inglês, para mim, fez toda a diferença em me encontrar, entender o mundo de umas outras maneiras, de ter uma visão diferente do que que um outro idioma pode trazer para mim, e eu tento passar essa visão para os meus estudantes, porque, apesar de serem de escola pública, que é o que eu gosto de dar aula, eles sempre falam: “Ah, mas eu não vou sair do país!”. Ai… reclamações deste tipo, mas eu tento mostrar para eles que não é só porque vai sair do país. Vai te oferecer outras portas como… profissionalmente, e abrir a mente para entender alguns filmes que tem algumas piadinhas, alguns contextos diferentes, então é isso que eu gosto
MARIANA: Muito obrigada, Laís.
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MARIANA: Você pode se apresentar, por favor? Fala o seu nome, de onde você é e o que você faz, e quais línguas você fala.
MIGUEL: Bom, meu nome é Miguel e eu sou daqui de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, e eu estudo, tô no terceiro ano do Ensino Médio, já vem vestibular, e eu falo, claro, português, e eu falo também melhor o inglês, espanhol, e tô estudando um pouquinho de francês, e sei um pouquinhozinho de Guarani.
MARIANA: Muito legal! Miguel, é a primeira vez que você participa do evento ou você já esteve aqui outras vezes? Como que você ficou sabendo do evento e o que que te motiva vir aqui?
MIGUEL: Bom, eu fiquei sabendo do evento pela minha professora Laís, ela era minha professora de inglês, ali na minha escola, e eu acho que o estudo por outras línguas é algo que me motiva bastante, porque eu acho que a língua, e a linguagem em si, é algo que me faz conectar com outras culturas, outros jeitos de pensar e… acho que basicamente é isso. É a segunda vez que eu venho aqui e tá bem diferente do que da primeira vez, e tá sendo bem interessante, tão bom quanto a primeira.
MARIANA: A sua participação no evento tem tido algum resultado ou efeito no uso da língua que você vem aqui praticar? Você sente que isso tem te ajudado?
MIGUEL: Com certeza! Principalmente na questão da conversação, porque quando a gente consegue colocar em prática é maravilhoso. A presença de eventos como esse é essencial.
MARIANA: Miguel, quanto da sua identidade como pessoa, sujeito no mundo, tem relação com as línguas que você fala e usa? Você consegue se ver sem alguma delas?
MIGUEL: Nossa, eu acredito que não. Um exemplo que eu me lembro, é até recente, eu tava pesquisando para escrever o significado de verbos, né, no caso significado que a gente vê no dicionário, e o francês, o significado da palavra ser/estar é totalmente diferente do português, né. É… traz um sentido muito mais filosófico, e também é diferente do significado no dicionário em inglês. Então é algo assim que me fascina muito, porque eu sinto que… como… se eu não aprendesse a outra língua, eu não teria acesso àquela outra vivência e para mim acho que experienciar outras vivências… é o que me move na vida eu acho.
MARIANA: Você diz que fala quatro línguas já, ou três, e o que que te motivou a aprender cada uma dessas línguas?
MIGUEL: Bom, o inglês eu acho que é o mais genérico assim que a gente vê e tive um interesse maior por ele no começo da minha adolescência, eu acho que quando a gente tem um contato maior com as redes sociais a gente vê uma necessidade do inglês. O espanhol e o guarani, que sei bem pouquinho, é principalmente por causa da minha família materna, que é do Paraguai. Meu vô, ele fala espanhol e guarani, então eu sempre tive um interesse assim por essas línguas e… então em casa, assim, eu tinha um contato um pouquinho com espanhol assim, o guarani nem tanto, que é mais meu vô que fala, só que é sempre é algo muito e curioso para mim. E o francês, eu acho que eu tô aprendendo recentemente, e acho que para aumentar, expandir o meu vocabulário, de alguma forma, a minha vivência mesmo, porque eu tenho contato com uma outra cultura e quando eu sei a cultura, a língua daquela cultura, eu consigo me conectar melhor com o que eu tô consumindo.
MARIANA: Muito obrigada, Miguel.
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LETÍCIA: Você pode, por favor, se apresentar pra gente? Falar o seu nome, de onde você é o quê que você faz e quais as línguas que você fala?
MIGUEL: Olá, tudo bem, pessoal? Miguel Ángel Aguilar por aqui. Eu sou chileno, que moro no Brasil já há mais de uma década. Então, falo espanhol — é minha língua nativa —, aí a minha segunda língua foi o inglês, depois aprendi o francês, e vim no Brasil para aprender português, daquele jeito que vocês estão ouvindo, e agora estudo italiano. Há um ano, um pouquinho mais.
LETÍCIA: Ah, legal, Miguel, nossa! E é a primeira vez que você vem aqui no evento, ou você já veio outras vezes?
MIGUEL: Já vim. Eu, na verdade, super gostei, mas eu trabalho como guia turístico, então é meio incompatível. Não consigo prestigiar sempre. Mas me encantou, assim, foi muito legal. Foi, foi bacana. Então, sempre que consigo encaixar na agenda, eu apareço por aqui.
LETÍCIA: E como que você ficou sabendo dele a primeira vez? E o que sempre te dá vontade? Que te motiva a vir de novo?
MIGUEL: Então, eu participo do clube de conversação, o Loïc, né, de francês. E aí ele divulgou. Aí que eu fiquei sabendo, aí, depois segui o “insta” do Capivas.
LETÍCIA: Monitor de francês, né, do evento?
MIGUEL: Isso, Loïc é um francês que veio dar aula aqui de francês no Brasil. E, bom, eu amo pessoas que gostam de idiomas, né, que têm essa mentalidade aberta, de conhecer pesssoas. É uma “vibe” muito bacana. Por isso que eu venho, na verdade, pra interagir com pessoas com uma energia parecida.
LETÍCIA: Ah, que legal. E a tua participação no evento tem algum efeito no uso das línguas que tu acaba vindo pra cá pra praticar? Tipo… essas que tu tá começando agora? Se muda a tua relação com elas e o uso delas também.
MIGUEL: Então, a minha ideia é justamente vir pra tentar achar alguém que fale italiano e praticar. É a língua que estou desenvolvendo, então faz muito sentido praticar ela, né? E as outras, na verdade, com meu trabalho consigo praticar todo o tempo, o tempo todo, né? Mas o italiano é meu objetivo. A soltar a língua.
LETÍCIA: Então tu tem vindo por causa do italiano, mais.
MIGUEL: É, eu pretendo desenferrujar um pouquinho ele, né, assim, desenvolver.
LETÍCIA: E agora a gente já vai pra nossa última pergunta, que é: quanto da tua identidade como pessoa, como sujeito no mundo, tem relação com as línguas que tu fala, e tu usa? E se você consegue se ver sem alguma dessas línguas que tu fala e usa?
MIGUEL: Ah, interessante. Na verdade, eu sou meio estranho, né? Quando volto pro Chile, por exemplo, o pessoal me pergunta o que eu sou. Né, os locais, então é meio que perder um pouco a identidade, querendo ou não. Mas isso te faz também ter uma percepção de “portas abertas”. Né, de você conseguir se sentir, de certa forma, cidadão do mundo. Então, é… é uma ferramenta e tanto. Porém, tem essa questão de um pouco ficar no limbo, né? No sentido de talvez perder um pouco dessa identidade chilena. Mas eu não sei como que me vejo sem língua agora, até porque eu trabalho com isso. Então é uma ferramenta pra mim, e sem ela não poderia fazer o trabalho que eu amo tanto, que é ser guia turístico. Então, realmente eu não me vejo mais sem essas línguas.
LETÍCIA: Ah, então tá! Muito obrigada, Miguel, pela tua participação! É isso.
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LETÍCIA: Você pode se apresentar pra gente, por favor, falar o seu nome, de onde você é, o que você faz e quais as línguas que você fala?
MARTON: É… me chamo Marton, eu sou de Recife, eu sou programador e eu falo português, inglês, espanhol, entendo um pouquinho de francês, estou estudando chinês e falo esperanto.
LETÍCIA: Esperanto! Marton, fala um pouquinho pra gente: onde que se fala esperanto? Como é que é a história dessa língua aí?
MARTON: É uma boa pergunta! Esperanto foi uma língua planejada por… acho que era um cirurgião lá na antiga Polônia, e ele criou um idioma justamente pra poder unificar várias populações diferentes, várias etnias. Porque ele achava que os conflitos que se davam naquela época eram por conta do mau entendimento. E aí é uma língua que usa um pouquinho de cada idioma e tem uma gramática super simples e com o intuito de ser uma língua… usada como segunda língua, para a comunicação internacional.
LETÍCIA: E tem muita gente que fala esperanto no mundo, e no Brasil?
MARTON: Por incrível que pareça, tem. Por mais que você ache que não, que você não conhece muita gente que fala, tem muita gente que fala. Eu não sei aqui exatamente em Campo Grande, mas com certeza deve ter gente que fala esperanto. Eu consigo viajar, consigo encontrar gente que fala o idioma, e tem uma coisa bem legal: a gente consegue se hospedar na casa dessas pessoas simplesmente pelo fato de falar esperanto. É meio que uma comunidade, assim.
LETÍCIA: Nossa, que legal!
MARTON: Sim, e, assim, eu esqueci de responder a primeira pergunta, né? Onde é que se fala esperanto? Não tem exatamente um local, sabe? Não tem exatamente um ponto, não é uma língua nacional, como é o inglês e o português. É uma língua que é espalhada, assim, geograficamente, pelo mundo.
LETÍCIA: Ai, que legal. E tu falou que tu viaja bastante, pelo jeito. E dessas tuas viagens, assim, e dessas línguas que tu fala, alguma é mais difícil dessa prática, ou de ir viajando? O que é que tu observa disso, assim?
MARTON: É, até o momento eu só viajei pra países que falam espanhol ou português, assim, algumas línguas indígenas também, mas eu não falo nenhuma, infelizmente. É… o espanhol às vezes — por mais semelhante que seja com o português, às vezes dá um pouco de dor de cabeça. Porque você está num país que tem um sotaque muito específico. Por exemplo, eu estava no Chile agora. Eu sofri um pouquinho. Na Venezuela também sofri, mas enfim. Depois de um tempo você acostuma, né? Uma semana, você acaba pegando o jeito, entendendo como é que funciona.
LETÍCIA: Bom. E é a primeira vez que você participa? Que você vem aqui no evento? E como é que você ficou sabendo dele, se é a primeira vez?
MARTON: Sim, inclusive é minha primeira vez aqui em Campo Grande. Nunca tinha vindo pra outra cidade do centro-oeste que não fosse Brasília. E eu estou hospedado na casa de Lucas Leque, e ele falou “ó, vai ter um evento de idiomas lá, vamos lá, vamos todo mundo” e tô curtindo muito aqui. Bem legal.
LETÍCIA: Só pra explicar, gente, o Lucas Leque já fez parte do LínguasCast e ele é um dos monitores de italiano, de francês, de inglês daqui do Campão Sem Fronteiras, né? E… a tua participação, tipo — essa pergunta aqui, eu vou mudar ela um pouco. Mas essas viagens que tu faz, elas mudam a relação que tu tem com os idiomas que tu fala? Em que perspectiva elas fazem isso, se é que elas mudam?
MARTON: Ah, com certeza, com certeza… É… assim, eu nunca fui “fãzão” do espanhol, mas só que a partir do momento em que eu comecei a viajar — assim, os países aqui só têm um acesso mais fácil né — eu comecei a me identificar um pouco mais com o espanhol e falar com muito gosto. Assim, é diferente do inglês, que — até o momento, não fui pra nenhum país que fala inglês — eu não tenho tanta conexão. E… tem outra coisa também sobre essas línguas que são indígenas: eu estava agora há pouco na Bolívia, e eu ouvia o pessoal falando em quechua. Deu uma vontade muito grande, assim, de aprender quechua, deu uma vontade de entender o pessoal falando, e conversar com eles, e eu gosto dessa surpresa, de quando as pessoas percebem que você fala a língua delas. Falam “poxa, por que você fala a minha língua?”. É uma surpresa agradável, na verdade.
LETÍCIA: E… agora, então, a gente já vai pra nossa última pergunta, que é: quanto da tua identidade como pessoa, sujeito no mundo, tem relação com as línguas que tu fala e usa? E se você consegue se ver sem alguma dessas línguas que tu fala e usa?
MARTON: Ah, é… pois é. É… vou citar o caso do esperanto, especificamente. Eu aprendi quando era… acho que tinha 14, 15 anos. Isso mudou completamente a minha forma de viver, né? A forma que — a minha relação com o mundo. Porque eu comecei a viajar, comecei a ficar hospedado na casa de pessoas que falam esperanto, fiz amizades que eu levo até hoje, sabe? Desde os meus 15 anos. E falar esperanto me ajuda a ter ideias, assim, semelhantes com outras pessoas, por exemplo: aprendi sobre o veganismo, aprendi sobre uma filosofia chamada rombaranismo, que tem dentro do esperanto, e coisas — ideias assim que não surgiram de mim mesmo, mas só que eu aprendi a pensar sobre, cogitar também, por exemplo, ser vegano. Cogitar esse tipo de coisa.
LETÍCIA: E isso só foi possível por causa dessas línguas… dessa troca…
MARTON: Sim, exatamente! Quando você aprende um idioma, você não só aprende o idioma. Se você aprende um idioma nacional, você é ligado um pouco à cultura daquele país. Ou então, no caso do esperanto, você cria uma mentalidade mais globalizada, sabe? Em uma língua indígena, você aprende tradições maravilhosas, né, a que você não tinha acesso antes.
LETÍCIA: E tu consegue te ver sem alguma dessas línguas que tu fala?
MARTON: Ah, acho que não, acho que não… eu acho que eu seria mais triste se eu não falasse esses idiomas que eu falo hoje em dia. E acho que falo pouco ainda, né? (risos) Quero aprender mais.
LETÍCIA: Muito obrigada, Marton!
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MARIANA: Você pode se apresentar, por favor? Fala seu nome, de onde você é, o que você faz e quais línguas você fala?
JAQUELINE: Bom, meu nome é Jaqueline Mendes, eu tenho 26 anos, eu sou professora de inglês e pesquisadora de literatura coreana, e os idiomas que eu falo são português, minha língua nativa, inglês, coreano e eu arranho francês e espanhol. No básico do básico.
MARIANA: É a primeira vez que você participa do evento ou você vem sempre aqui? Como você ficou sabendo? O que te traz aqui?
JAQUELINE: OK, bom, eu conheci o evento graças à Letícia Carriconde (!), que é monitora, desde o primeiro evento, de língua espanhola, e aí no primeiro evento eu vim como participante apenas, não tinha a língua coreana, então eu vim só com a bandeirinha do inglês… não, eu botei espanhol também. Eu era aluna de espanhol, eu botei o espanhol também. Mas a partir do segundo encontro, eu me ofereci para adicionar a língua coreana no evento, e aí eu tenho vindo em todas as edições desde então. É a quarta? É a quarta já, né? Quinta! (susto) É a quinta.
MARIANA: A sua participação no evento tem tido algum efeito no uso da língua que você vem aqui praticar?
JAQUELINE: Bom, eu tenho sempre contato com o inglês e eu pratico todos os dias, mas eu acho que ajudar outras pessoas com o português tem tido um impacto bom. Há troca, em questão da língua nativa. E também o coreano é extremamente raro que a gente tenha participantes, mas fazer, por exemplo, a integração de aspectos culturais, mesmo daqueles que ainda não estão em um nível em que eles conseguem conversar comigo, mas fazer essa troca cultural, falar sobre aspectos históricos, aspectos literários, né, porque eu estudo literatura e eu tenho um clube do livro também, então algumas pessoas me conhecem por causa do clube do livro de literatura coreana e vêm aqui. Então elas não conseguem conversar na língua ainda, mas a gente tem essa troca, que é um aspecto cultural que eu acredito ser extremamente importante pra quem tá estudando, né? E… sim, eu fiz algumas amizades que têm o coreano como uma língua, assim, de nível intermediário e que fazia muito tempo que eu não conseguia praticar, então é o momento em que eu fico transbordando de alegria. Eu também fico muito feliz em ajudar quem está iniciando e não tem outra oportunidade de praticar fora daqui, ou só estuda online, e aí tipo uma vez por mês a gente troca algumas interações, é, tipo, extremamente gratificante.
MARIANA: E… Jaqueline, quanto da sua identidade como pessoa, sujeito no mundo, tem relação com as línguas que você fala e usa? Você consegue se ver sem alguma delas?
JAQUELINE: Não (risos). Eu acho que eu não consigo me ver sem nenhuma das línguas que eu falo. Eu seria tipo um quebra-cabeça incompleto sem o coreano ou sem o inglês. Na verdade, eu acho que a minha relação com línguas vai estar extremamente ligada ao meu conceito identitário, assim… é — eu não só por ser meu trabalho, mas também por questões de apego emocional e questões acadêmicas também, que envolvem as línguas que eu falo e como eu estou sempre mudando entre uma e outra, e… eu tenho algumas dificuldades de comunicação, por exemplo, é… enfim, devido a diagnósticos. E é um pouco difícil pra mim me comunicar em certos aspectos e às vezes até na minha própria língua materna. E aí ter aprendido outras expressões e outras maneiras culturais de expressar e conviver com pessoas que têm normas sociais ligadas à língua, que são diferentes, assim, do que eu cresci, ou que foi inscrito como um manual de instruções, assim, facilita pra mim, me deixa mais maleável, faz com que eu me sinta mais confortável e transite, também, entre essas diferentes personalidades, essas diferentes línguas, assim. Então, é extremamente importante pra mim.
JAQUELINE: Se eu por exemplo não puder falar inglês, que era o que eu tava com medo antes de começar porque eu tava dando aula então pensei “meu português vai falhar!”. Se eu não puder mesclar uma língua e outra então normalmente acho que não vou conseguir me expressar tão bem. Até o coreano sai de maneira natural e eu não seria a Jaqueline sem essas línguas.
LETÍCIA: Muito obrigada!
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LETÍCIA: Você pode se apresentar pra gente, por favor? Falar o seu nome, de onde você é, o que você faz e quais línguas você fala.
BIANCA: Claro. Meu nome é Bianca, eu sou natural de São Paulo, tô aqui em Campo Grande há sete anos. Eu falo LIBRAS, um pouco de inglês e português.
LETÍCIA: E é a primeira vez que você participa do evento ou você vem sempre?
BIANCA: Eu sempre tô no evento. É a minha quinta edição, eu faço questão de vir, todas as vezes.
LETÍCIA: O que te traz aqui todas essas vezes?
BIANCA: A variedade de línguas né, me interessa bastante. O inglês por estar sempre conversando, sempre praticando. Isso me chama bastante atenção.
LETÍCIA: E quais línguas você fala mesmo? Você já falou né?
BIANCA: LIBRAS, um pouco de inglês e português.
LETÍCIA: E eu tô vendo aqui que tu é da equipe também. E o grupo de LIBRAS ele é bem grande aqui, quando tu vem, quando participa? Como ele é? Ele é numeroso? Qual é a participação?
BIANCA: Olha, tem bastante gente que fala LIBRAS. Só não é muito conhecido, né, porque o pessoal não tem muitos eventos pra esse público aqui em Campo Grande, mas assim, é uma boa quantidade de pessoas que vem prestigiar.
LETÍCIA: Então tu diria que é um diferencial do Campão sem Fronteiras ter esse espaço também, pra quem sinaliza, pra quem usa LIBRAS?
BIANCA: Com certeza! É muito importante pra comunidade surda ter esse tipo de evento.
LETÍCIA: E a tua participação no evento tem tido algum efeito no uso que tu faz da LIBRAS? Tipo: tu acha que tu tá mais fluente? Quais são as diferenças que tu vê, já que é a tua quinta edição, né?
BIANCA: Ajuda muito no dia a dia, as experiências, o contato que a gente tem com o grupo da comunidade surda pra desenvolver a sinalização, porque a sinalização nada mais é do que prática, né. Então ajuda bastante.
LETÍCIA: E quanto da tua identidade como pessoa, como sujeito no mundo, tem relação com as línguas que você fala e usa? E se você consegue se ver sem alguma dessas línguas que você fala e usa?
BIANCA: Olha, desde que eu comecei a aprender LIBRAS foi uma língua que me pegou bastante justamente porque a LIBRAS ela é a língua brasileira de sinais né, ela é a nossa segunda língua. E, apesar dela ser a nossa segunda língua, ela não é muito conhecida no Brasil né. E trazer isso, essa inclusão pras pessoas que não conseguem conversar com a gente, só por meio da sinalização, foi muito importante nesse processo de me enxergar como pessoa né. Como brasileira.
LETÍCIA: Ai, que legal! Muito obrigada, Bianca.
ALICE: E a palavra do dia é estremadura. Segundo o Dicionário Aulete Digital, estremadura significa “Linha divisória de uma região, ou de uma localidade. Região que se localiza na extremidade de um país, no confinamento com outro; FRONTEIRA.” https://aulete.com.br/estremadura
LETÍCIA: Neste episódio do LínguasCast, os áudios são do freesound.org. Direção e roteiro foram realizados de forma colaborativa por toda a equipe do LínguasCast. A edição de som e mixagem foram feitas por Henrique dos Santos Mosciaro. A pré-produção foi realizada por Letícia Carriconde. Nossas artes foram criadas por Amanda Larissa Miranda. Transcrição e pós-produção foram feitas por Rosa Ruiz, Julia Beatriz de Castro Martins, Lucas Modesto e Letícia Carriconde. Este episódio contou com a colaboração de Thiago Carriconde Soares como engenheiro de som. O podcast é produzido por Ana Karla Miranda.
ANA KARLA: Este é o terceiro ano do LínguasCast. Você pode escutar as temporadas anteriores e todos os episódios desta no Spotify, ou no Youtube, pelo canal LínguasCast. Não deixe de nos seguir no Instagram @linguas.cast. A transcrição deste episódio pode ser acessada em linguascast.blogspot.com.