Transcrição do episódio 1 - Ser ou não ser professor de espanhol/inglês? That's la cuestión
Hey everybody!
Este é o primeiro episódio do Língua Cast. O seu podcast sobre linguagens, identidades e otras cositas más. Vem com a gente!
Simone: Eu tagaralerei
Tu tagarelas
Ele tagarela
Ela tagarela
Nós tagarelaremos
Vós tagarelareis
Eles tagarelaram
Thais: Eu tagalerarei, hahaha (risos)
Tu tagalareras
Ele tagararera
Ela tagararera
Nós tagareralemos
Vós tagarelareis
Eles tagarelaram, hahahaha (risos)
Álvaro: Eu tagarelarei
Tu tagarelarás
Ele tagarelará
Ela tagarelará
Nós tagarelaremos
Vós tagarelareis
Eles tagarelarão, hahaha (risos) - Misericórdia!
Leticia: Olá, linguarudos, linguarudas e linguarujos. Sejam bienvenidos ao primeiro episódio do Línguas Cast, eu sou a Letícia.
Davi: E eu sou David! Hello, my tongue twisters! Wellcome to our podcast.
Letícia: - O tema do episódio de hoje está na ponta da língua e é a escolha pela língua estrangeira nas habilitações português-inglês e português-espanhol do curso de licenciatura em Letras.
Letícia: -E para falar sobre o assunto, nós convidamos duas alunas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, a Simone Lima Ferreira, dos semestres finais do curso de português e espanhol, e a Thais Santos Silva, do sétimo semestre de português inglês.
Davi: - Meninas, nós queremos agradecer primeiramente vocês por terem aceitado participar do nosso primeiro episódio do Línguas Cast. Então, sejam muito bem-vindas e obrigado.
Thays - Eu que agradeço, muito obrigada pelo convite!
Simone: -Ah! Eu agradeço imensamente o convite e estamos aqui. Hahahaha (risos de todos)
Davi: - Então bora!
Leticia: -Então, podemos começar a falar, né? Tipo, o curso de letras da UFMS o aluno sai preparado para ser professor de língua portuguesa e de uma língua estrangeira, inglês ou espanhol e as respectivas literaturas dessas línguas, tanto a língua portuguesa quanto inglês ou espanhol. Dentre essas possibilidades qual foi a que motivou vocês a escolher o curso em que cada uma está?
Thays: -Então, é muito interessante essa pergunta, a minha escolha do curso foi por uma questão muito pessoal e emotiva.
Quando eu estava no ensino médio descobri que estava com depressão, foi uma fase muito difícil para mim, e desde pequena eu sempre tive muito contato com a literatura.
E a partir daí, nas aulas de língua portuguesa, (como eu não tinha mais aulas de literatura no ensino médio, por conta da mudança do currículo da educação, a literatura se “encaixou” na matéria, mas, nas poucas aulas de literatura que ainda tinha, eu era apaixonada e amava ler).
A leitura me ajudou no decorrer do ensino médio, devido a minha questão emocional, nesse contexto, minha professora perguntou “por que você não faz Letras? É a sua cara, você gosta tanto de literatura, de leitura”. A partir disso, eu escolhi o curso, só que eu queria fazer Letras Portugues-Literatura, porém, a UFMS não tinha essa opção, somente Letras Portugues-Inglês e Portugues-Espanhol. Espanhol, para mim, era muito difícil e eu me arrisquei no inglês, que inclusive, eu não possuía nenhum conhecimento, pois ele era bem básico no ensino médio. Enfim, entrei assim mesmo, com consciência zero de inglês.
Leticia:- E você, Simone?
Simone:- A minha motivação pela a escolha de Letras Portugues-Espanhol foi mais ou menos parecida com a da Thaís. Eu também não queria fazer o curso com a língua estrangeira, mas sim só pela língua portuguesa-literatura, porque eu fui ingressante na no campus de Coxim e lá nós não tínhamos língua estrangeira.
Então, quando eu vim para Campo Grande tive que optar por escolher Letras Portugues-Ingles ou Letras Portugues-Espanhol e assim, de maneira parecida com a da Thais, na minha cabeça o inglês era muito difícil e o espanhol era fácil, por esse motivo optei pelo espanhol.
Davi:- hahahaha(risos) ao contrário.
Simone:-No entanto, no início do curso eu tive muita dificuldade e me arrependi da escolha, queria, inclusive, ter trocado para o inglês, hoje não, hoje eu estou totalmente satisfeita e realizada e fico muito feliz comigo por eu não ter trocado, por entre outros motivos que eu acho que vão ser citados no decorrer da nossa conversa.
Leticia:-Aham.
Davi:-Que legal, que legal.
Davi:-Eu achei muito interessante a resposta da Thais porque, geralmente, quando a gente escuta o pessoal falando do espanhol, eles falam que é muito fácil e parecido com o português. Thais e eu somos da mesma sala
Davi:-E toda vez que eu escutava você contar essa história nas salas, no semestre quando o professor perguntava “por que você escolheu?”, eu nunca vi você falando que achava espanhol difícil e isso linka para a minha próxima pergunta, a pergunta que a gente separou, que é para as duas também, Thaís e Simone.
Davi:-Se foi muito difícil para vocês essa escolha, Thaís talvez vai dizer que sim. Mas, eu queria saber se vocês tiveram um momento assim de , eita, qual eu vou? espanhol ou inglês, já que não tem essa opção de literatura, ou só português.
Thays:-Olha, assim, para mim, quando eu vi espanhol, eu tinha essa concepção de que poderia ser fácil, mas por experiência de ter tentado ler espanhol, aprender espanhol em algum momento da minha juventude, eu falei “não, vou me arriscar no inglês”, aquela questão de tipo, ah!, eu já tive aula na escola, sei música, sei cantar música em inglês, a gente acha que vai ser fácil.
Por isso eu escolhi o inglês, só que quando eu cheguei na faculdade e me deparei com a língua, falei “meu Deus, será que fiz a escolha certa? Deveria ter me aventurado no espanhol?”.
Davi: —hahaha (risos), o baque.
Thays: —O baque foi bem grande, me lembro como foi difícil no início, mas aí foi a questão de estudar e se adaptar ao contexto, colocar a cara nos estudos, e ir estudando e aprendendo.
Em primeira instância, eu fiquei um pouco dividida, mas, acabei optando pelo inglês por achar o espanhol muito mais difícil na minha concepção.
Leticia: —Bom, antes de passar para a Simone, queria perguntar para a Thais sobre esse momento que tu falou que já tinha se aventurado em tentar aprender o espanhol, foi na escola? Como foi?, já tinha tentado porque foi um desejo seu em algum momento?
Thays: —Então, na minha escola não tinha a língua espanhola como segunda opção de língua, era só dada a língua inglesa, a questão do espanhol foi que, minha avó assistia muita novela mexicana e algumas que eu queria assistir, porque, criada com a avó na sala assistindo a novela do sbt a tarde, pensei, “tem muitas outras novelas mexicanas com os autores que eu gosto”, só que nenhuma era dublada e eu só achava legendado em espanhol, era aquela coisa que você ia pelo contexto e para entender mais eu pesquisava algumas palavras e ia me aventurando.
Porém, era difícil, pois a fala era muito rápida, às vezes eu achava que entendia mas, aquilo era diferente, eu achava difícil.
Uma outra questão que me fez estudar um pouquinho mais, foi por amar a novela turca, só que a novela era legendada em espanhol.
Davi: - hahaha (risos) olha só!
Thays: - Então, novamente eu tinha que ir pelo contexto, que inclusive, na minha dedução estava meio errada, às vezes hahaha(risos). Por fim, foi essa curiosidade que me levou a estudar um pouco e me fez ver que eu tinha muita dificuldade com o espanhol.
Leticia: —Então agora eu vou passar para a Simone. Simone, tu já deu uma introduzida comentando sobre um momento que tu se arrependeu de ter escolhido a habilitação de espanhol, fala um pouquinho para a gente sobre como foi esse processo.
Simone: —Então, Letícia, você sabe bem que eu entrei no curso de letras em Campo Grande com um filho recém-nascido, que você inclusive me ajudava a cuidar lá na sala de aula.
Davi:-Ai, que legal!
Leticia:-Danilo, o nosso mascote hahaha(risos).
Simone:-Sí. Que está hablando bien!! hahaha(risos)
Davi:-Olha!!!! hahaha (risos)
Leticia:- Uuuh, que guapo!!
Simone:-Foi muito complicado para mim a questão de horários e como eu passei a fazer a minha grade, não seria a grade da universidade corretamente, tive algumas dificuldades no espanhol, então eu abandonei o espanhol no início e decidi fazer as literaturas que são as disciplinas mais simples, mais fáceis, mais prazerosas para mim, sem dúvidas, e deixei o espanhol para o final do curso. Então, o ano passado que de fato, como diz a professora Damares, eu fui entrar no espanhol, ou o espanhol entrar em mim, não sabemos hahaha (risos).
A partir do momento que aprendi um pouco, comecei a gostar, e estudando mais as perspectivas de ensino e aprendizagem, vejo o quanto é importante, principalmente no nosso contexto Regional, o espanhol. Portanto, hoje estou bem feliz com a minha escolha, ainda que lá no início eu me senti um pouquinho perdida.
Davi: -Falando desse contexto regional, Thais, eu queria fazer uma pergunta.
O seu ensino médio foi aqui no Mato Grosso Do Sul mesmo? porque fazemos fronteira com outros países hispanohablantes.
Thays:- Foi, foi aqui em Campo Grande.
Davi:- Ah sim.
Leticia: -Simone, já que você falou da questão das literaturas, quando você diz que elas são as disciplinas em que você se sente mais confortável, inclui as literaturas de língua espanhola?
Simone: -Não, somente as literaturas de língua portuguesa mesmo, literatura brasileira e portuguesa que nós vemos no curso.
Leticia:- Uhum. Então, a literatura de língua espanhola você também deixou reservada para o final?
Simone: -Sim, as literaturas de língua espanhola, as disciplinas de língua espanhola e as disciplinas de ensino de língua espanhola, os estágios de língua espanhola, eu deixei tudo no pacote do final do curso.
Leticia: -Uma imersão absoluta.
Simone:-Exatamente hahaha (risos).
Davi: -Essa é uma pergunta interessante que eu vou passar para a Thais. Thais, você falou que lia muito, antes de entrar para a faculdade.
Thais: -Sim
Davi: -O teu contato com a literatura inglesa era grande, ou não, como era?
Thays:- Sim, isso é engraçado porque o primeiro clássico que eu li não foi clássico brasileiro, foi um clássico do cânone literário ocidental, que é o Cânone ocidental do sherlock holmes, só que, obviamente, traduzido e foi muito interessante porque eu tinha uns 13-14 anos na época e achei meio confuso por causa da linguagem da época, mesmo sendo traduzido, ele traz o aspecto da época. Mas eu fiquei apaixonada pelo romance policial, pelos personagens, contudo, a literatura da língua portuguesa veio depois.
Davi: -Então quando você pensou em literatura para entrar na universidade, também estava pensando a inglesa ou a internacional do cânon literário mundial?
Thays: -Sim
Davi: -Interessante, então não era só a brasileira.
Thais: -Sim, literatura russa. Quando entrei na faculdade eu já tinha lido alguns livros e eu queria muito estudar eles.
Leticia: -A Simone também tem uma predileção pelas literaturas e circula nas suas optativas em outros cursos que também tem uma certa relação de alguma forma com alguma questão literária, né, Simone? os projetos que tu se envolve.
Simone: -Sim, Letícia. Eu sempre estou envolvida em projetos voltados à literatura, os meus projetos de extensão, e as optativas que eu fiz nos cursos de humanas, nas ciências sociais, no curso de história, porque a literatura é uma paixão, mas a história também haha (risos). Eu não consigo me divorciar de uma ou de outra, então eu fico nesse meio termo transitando entre vários cursos, uma vantagem que podemos dizer que a pandemia nos trouxe foi a permissão de fazermos várias disciplinas em outros cursos, coisa que presencialmente não conseguiríamos devido ao deslocamento até a universidade.
Davi: -É, uhum.
Simone: -Verdade.
Davi: -Meninas, para a próxima pergunta então, a gente falou um pouco da relação da língua que vocês tinham, a Thais até mencionou o baque que ela teve no começo do semestre, porque quando a gente tem as primeiras disciplinas de língua, as aulas, por exemplo, de inglês são em inglês, então para quem entra sem a base da língua é um baque mesmo. Mas, atualmente, a Simone que já está no final e a Thais que já está no sétimo semestre do curso, como está a relação de vocês com a língua agora? vocês se imaginam como professores da língua escolhida?
Thays: -Nossa, Davi, que pergunta profunda.
Davi: -hahaha (risos).
Thays: -Agora eu fiquei reflexiva. O meu inglês agora não está lá aquelas coisas, mas a gente vai melhorando e aprimorando, a questão da língua é gradativa, depende da imersão do tempo que você leva para estudar, às vezes a gente prioriza outras coisas e acaba deixando a língua de lado, porém eu sinto que tive uma boa evolução. Hoje, por exemplo, nas aulas de inglês eu não fico mais com dúvida sobre o que o professor está explicando, entendo o que ele está falando, consigo me comunicar mais, coisa que o Davi lembra que eu quase não fazia
Davi: -Sim, isso é muito legal.
Thays: -Ficava praticamente calada nas aulas de língua inglesa só absorvendo o que eu entendia e eu acho que me ver professora de língua inglesa é uma coisa que me pega, porque eu me vejo agora, é interessante isso, não tanto na sala de aula, mas na área de pesquisa da literatura e isso me pegou no meio do curso, na pandemia, inclusive, no nosso terceiro ano da faculdade eu comecei fazer projeto de pesquisa em literatura, e, sim, eu me vejo dando aula de língua portuguesa e inglesa, no entanto, ainda estou formulando, decidindo.
Davi: -Construindo, né.
Thays: -É, isso, Davi.
Leticia: -E tu, Simone?
Simone:-Então, Letícia, até o semestre passado eu diria que não, diria “vou ser uma professora de língua portuguesa e literatura” e a minha predileção sempre é a literatura brasileira, em língua portuguesa, mas o ano passado eu tive uma experiência muito bacana pelo projeto de extensão da UFMS em que ministrei um curso de literatura para alunos estrangeiros, tive aluna do México e da Colômbia, eu falava boa parte em português, porque o projeto visava que esses alunos aprendessem português, mas muita coisa eu falava em espanhol, eu gostei muito da experiência, foi incrível, hoje eu acredito que se eu tiver a oportunidade, sim. Sabemos que o mercado para professor de espanhol não é tão vasto como o inglês, mas acredito que se eu tiver oportunidade, sim, é uma coisa que hoje eu gostaria, não sei, talvez um projeto voluntário, por exemplo, sabemos que temos uma demanda de pessoas hispanohablantes aqui no nosso estado, na nossa cidade.
Leticia:- Sim
Simone:-Que precisam aprender sobre o português, talvez eu possa estar, quando tiver pouquinho mais de tempo (porque agora esse semestre está muito corrido), ministrando algumas aulas como voluntária, algo assim, algo que hoje, Davi e Letícia eu acho que pretendo sim.
Davi:-Ai, que demais!
Leticia:- Legal, que legal!. Então a gente está chegando ao final e tenho uma pergunta que tem relação com a identidade de vocês enquanto pessoas, enquanto sujeitos no mundo, se vocês diriam que hoje essa língua estrangeira, no caso da Thais o inglês e no da Simone o espanhol, o quanto ela tem relação com a identidade de vocês, hoje, se ela tem relação, se não tem, o que vocês se identificam com essa língua?
Simone:-Ah, essa eu vou começar respondendo haha (risos). Hoje eu me vejo com a língua espanhola sendo uma língua adicional minha, uma identidade muito mais próxima do que a língua inglesa por conta de todos os aspectos nossos com relação aos nossos vizinhos, com relação ao o que representa no mundo o Brasil, os países que circundam o Brasil e o que representa os países de língua inglesa, então, hoje em dia eu vejo a minha relação de identidade com o espanhol totalmente diferente, vejo que há muitos aspectos que nós compartilhamos em comum com o espanhol, não falando do espanhol peninsular, mas principalmente com o espanhol aqui da América. Nós, enquanto Sul-americanos, encontramos muita resistência no mundo.
Davi:-Total, me arrepiou.
Simone:-O desmerecimento em privilégio do Norte, então eu vejo que nós temos uma identidade em comum, um ponto em comum muito grande, onde todos transitamos de maneira muito maior do que as pessoas que são de língua inglesa, nativas do inglês.
Leticia:- Ai, que legal o seu depoimento, Simone. Thaís, e você haha (risos)?
Thays:-Gente, então, eu acho que a língua inglesa (por mais que eu não tenha me apaixonado por ela a primeira vista, tenho ainda minhas ressalvas) é importante para mim no sentido de que possibilitou que eu alcançasse saber o conhecimento (que sem ela acho que não teria) e trazer esse conhecimento para a nossa realidade, tanto na área da educação, quanto na área da literatura e isso enriqueceu muito, mas como a Simone disse, no Brasil a gente não tem tanto contato, pois esse contato é mais com a língua espanhola e, na minha opinião, acho que todo professor deveria saber espanhol, principalmente o pessoal do Mato Grosso do Sul por uma questão de fronteira de acessibilidade aos alunos, mas eu acho que a língua inglesa possibilita uma fonte de saber muito importante e ela traz para a gente a possibilidade de conhecer artigos, literaturas, reflexões, porque a gente sabe que ela é uma língua hegemônica
Leticia:- Sim, uhum!
Thays:- Então, ela traz esse grande benefício, hoje em dia, por mais que eu ainda não tenha uma relação tão amigável com ela, ela faz parte da minha identidade profissional e pessoal também.
Leticia:- Ai, que legal. E é importante a gente refletir também, a minha habilitação é para o espanhol, mas o Davi e eu conversamos bastante sobre as reflexões que os professores de língua inglesa também estabelecem a partir da noção de hegemonia do inglês, então é bem importante.
Thays:-Sim.
Davi:-Sim. A última pergunta, meninas, é se vocês conseguem se ver sem essa língua? Agora que vocês já entraram em contato com ela, já se desenvolveram ao longo da graduação.
Simone:-Hoje, Davi, sinceramente,depois do início desse ano que eu estou tendo um contato maior no comércio aqui em Campo Grande e vejo a presença de tantas pessoas hispanohablantes, não consigo mais ver, hoje vejo o quanto é importante o espanhol para mim, enquanto moradora dessa cidade, então é algo que não consigo mais me ver sem.
Davi:- Que legal!
Letícia:- Que legal!. Thaís?
Thays:-Então, hoje eu não consigo me ver sem porque eu sinto que ela me possibilitou crescer de maneira que eu acho que se ela não poderia ter crescido, no sentido até de me desafiar enquanto profissional, professora e pesquisadora, hoje ela já faz parte de mim e ela possibilita caminhos, como eu disse anteriormente, que sem o conhecimento da língua inglesa eu não teria chegado a outras oportunidades por meio dela, então é por isso que eu não consigo me ver sem a língua inglesa hoje em dia.
Davi:-Se você quiser fazer um comentário, Letícia, pode fazer.
Leticia:- Quero agradecer a disponibilidade das gurias de conversarem com a gente, de entrarem nesse projeto, porque os nossos convidados também acabam fazendo parte deste grande projeto, chamado Línguas Cast.
Davi:-Obrigada pela participação, meninas, se vocês quiserem falar alguma coisa para a gente se despedir
Thays:-Eu agradeço muito pelo convite, amei nossa conversa, acho que foi muito rica e também agradeço pelo trabalho que vocês estão fazendo, pois eu acho muito bonito também, pessoal, parabéns.
Davi:-Obrigado!
Leticia:- Obrigada!
Simone:-Verdade, parabéns à vocês dois, Thaís, também gostei muito de poder ouvir você
Thays:-Obrigada!
Simone:-sobre o seu ponto de vista da língua inglesa, as coisas que você falou, principalmente nas duas últimas respostas muito pertinentes, e muito obrigada pelo convite.
Leticia:-Então é isso, gente. A gente encerra, um abraço e muito obrigada mais uma vez, tchau, tchau.
Davi:-Para o episódio de hoje nós convidamos um especialista no assunto, o professor Álvaro José dos Santos Gomes, da área da língua espanhola, que é o Dr. em estudo de linguagens pelo, Centro Federal Educação Tecnológica de Minas Gerais e trabalha na formação de professores no curso de Letras-Espanhol da UFMS.
Davi: - Bienvenido professor! Muito obrigado por ter aceito o convite.
Álvaro: - Eu que agradeço Davi, é uma honra ter estreado o podcast com vocês, a convite da professora Ana Karla.
Letícia: - Obrigada professor!! Então, nós podemos dar início a primeira pergunta.
Letícia: - Professor, hoje, quando o sr passa por uma sala de aula e se depara com aquele aluno no primeiro dia, nos dias das apresentações, aí vem aquela pergunta “ah, como você veio parar aqui no curso”, aí o sr escuta daqueles alunos, que espanhol é mais fácil ou porque aquele aluno não queria de jeito nenhum o inglês. Gostaríamos de saber, como o sr lida nas suas aulas com essas resistências a línguas estrangeiras?
Álvaro: - Perfeito Letícia, é uma pergunta interessante e ela vai ao encontro da pesquisa que realizei no doutorado, sobre a evasão dos motivos pelos quais os alunos evade, e nas entrevista que eu realizei com os professores do curso de Letras Portugues-Espanhol, uma das grandes razões pelas quais os alunos evadiram, era a pouca identificação com o curso de letras ou seja, eles não se viam no próprio curso, é interessante isso ser vinculado a esses alunos que ingressam inicialmente no curso de letras e quando nos questionamos das cercas dos motivos pelos quais estão ali, são vários os fatores, um deles diz a respeito a nota que obtiveram por exemplo com a nota de corte no vestibular ou no Sisu, e por isso esses alunos estavam ali.
O espanhol, por ser aquela ideia “falsa” e inicial de que ela seria um pouco mais fácil do que a língua inglesa, geralmente os alunos prestam o Enem, optam, e nós temos uma grande maioria de alunos que optam por língua espanhola no Enem, então, eles acabam identificando e vinculando essa escolha ao curso.
Letícia: - Professor, hoje, quando você tá na sala de aula e se depara com um aluno, lá no primeiro dia que aula que tá se apresentando e diz que escolheu a habilitação de espanhol pq não queria de jeito nenhum o inglês, ou porque achava que o espanhol seria mais fácil ou por qualquer outro motivo menos o interesse pela língua, como que você lida nas suas aulas com essa resistência à língua estrangeira?
Álvaro: - Perfeito, isso não se aplica só na língua estrangeira, os alunos ficam um pouco perdido em razão a própria estrutura do curso, quando se imagina um curso de letras eles vinculam essa falsa ideia de que vão aprender regras de gramática normativa ou a norma culta padrão e que isso vai auxiliar em algum momento com um concurso ou com alguma outra atividade específica.
Bom, o nosso trabalho é claro, e eu gosto bastante de trabalhar bastante com essas turmas iniciais do primeiro semestre e, tentar trazer o contexto cultural da língua que é dos aspecto mais importantes a ser destacado nesse primeiro momento, é um trabalho de… E como dizemos na língua espanhola é o momento de “Namorasse” o idioma, então, a primeira estratégia sem dúvidas é trazer os aspectos culturais, como a música, o teatro e a literatura, então, essa é a primeira resistência que nós resolvemos. É claro, conscientizá-los de que é sempre bom aprender várias línguas, não só o espanhol, porque aqueles que optaram por habilitação de Portugues-Espanhol eles tem um pequeno trauma ou alguns traumas em relação ao inglês que tiveram na educação de base (ensino fundamental ou médio) com o nosso famoso verbo to be, então, eles tem essas resistências marcadas nesta trajetórias.
Davi: - Professor, o sr percebe alguma diferença na trajetória no curso desses estudantes em relação à trajetória daqueles que já ingressam com interesse pela língua estrangeira?
Álvaro: - Sim, é muito marcado aqueles que estão lá e que tiveram uma experiência positiva. Neste primeiro semestre, por exemplo, eu fiquei muito feliz , porque muitos alunos relataram a escolha de modo muito consciente em relação às experiências que tiveram no ensino médio, alguns alunos do Instituto Federal, alguns alunos que tiveram na rede pública no ensino médio a língua espanhola, eles tinham esse contato e tinham uma certa proximidade.
Durante a trajetória do curso nós percebemos é que aquele que de fato escolheram e foram um pouco mais organizados no ponto de vista profissional, pessoal e relações afetiva com a língua, é visível notar a trajetória desse acadêmico(a) ela será diferente daqueles que criaram uma resistência, porque o primeiro passo do professor é contribuir para que o aluno supere essa resistência, mas não é um trabalho fácil, nós passamos por vários outros professores na graduação, então esse trabalho de consolidação nem sempre é feito de forma contínua ou gradativa como deve ser. E profissionalmente nos vemos nas pós-graduação, e dos alunos que ingressam no mestrado e depois seguem para o doutorado, nós percebemos claramente essa linha desse percurso daqueles que realmente entraram no curso de letras na habilitação Portugues-Espanhol sabendo o que estava fazendo em relação às suas escolhas.
Leticia: - Professor, e sobre o seu percurso no curso de Letras, quando você entrou na graduação qual era a tua relação com a língua espanhola? Você já se identificou com ela ou foi um lance aleatório, tipo, nossa, tenho que escolher uma língua estrangeira e vai essa mesmo?
Álvaro: - É, eu estava pensando sobre isso e inclusive fiz alguns apontamentos para o podcast. Eu comecei fazendo sistema de informação na UFMS, eu cursei por 3 anos o curso de sistema de educação e aí eu trabalhava durante o dia e estudava a noite, então… O que acontece eu peguei dependência de cálculo dois e cálculo dois só era ofertado aos sábados a tarde, e eu não tive a oportunidade de realizar essa DP em razão do meu trabalho. Então muito do nosso percurso dos nossos alunos de licenciatura ela passa por essa questão dos alunos que precisam trabalhar, e esse foi o meu caso.
A minha relação com a língua espanhola ela nasce na verdade um pouco de forma aleatória, eu já gostava bastante das canções de língua espanhola, principalmente as polcas paraguaias que a gente vive nesse contexto.
Não consegui levar adiante o curso de sistema de informação, e eu fiz o curso licenciatura em letras noturno, aí foi quando de fato eu também estava um pouco perdido, e fui encontrar me lá no segundo ano do curso, e aí sim eu senti de fato que eu queria ser professor de língua espanhola.
Leticia: - Nossa, que legal!
Álvaro: - Foi bem radical sair do sistema de informação para fazer letras. hahaha (risos)
Leticia: - A sua habilitação já era língua portuguesa-espanhol?
Álvaro: - Sim, sempre foram os dois e depois que descobri meu perfil para a língua espanhola eu já comecei a atuar em escola de língua estrangeira da rede privada, passei pela wizard, fisk.
Davi: - Caminhando para o final da nossa pergunta nós queremos saber, e hoje, quanto da sua identidade como pessoa, sujeito no mundo, tem relação com essa língua (estrangeira)? Você consegue se ver sem essa língua?
Álvaro: - Davi, de forma alguma e sempre que posso eu tento nas aulas com os alunos que estão iniciando esse percurso de trajetória de línguas é, pensar na língua para além da língua do modo funcional, nós só conseguimos sentir a dor do outro, e a alegria e o amor do outro através da língua. Então, a língua espanhola me permitiu sentir a dor do latino-americano, a da mulher boliviana, da mulher campesina Argentina, do preconceito em relação aos povos bolivianos e andinas.Então, a minha identidade ela é atravessada por essa singularidade ao mesmo tempo eu tenho a grata satisfação e alegria de me comunicar nesse idioma e sentir todos os prazeres culturais, emocionais, e eu consigo também sentir essa tristeza e essa dor que esse povo historicamente carrega, então é uma mudança significativa.
Uma vez que você aprende um idioma independente de qual seja, você passa a ter esse condão de se modificar e acredito que vai melhorar em relação ao que você é, a sua identidade é transformada. Para mim foram mudanças muito estrutural do ponto de vista da identidade, inclusive a minha identidade, da minha formação como professor, cidadão e quanto latino-americano.
Davi: - Nossa, que lindo professor!
Davi: - Muito bom!
Letícia: - Eu me emocionei, porque eu me identifico muito, verdadeiramente fiquei muito emocionada.
Leticia: - Professor, muito obrigada pela participação, pela sua disponibilidade em ter vindo aqui conversar com a gente, por ter participado do projeto, muito obrigada mesmo!!
Álvaro: - Eu que agradeço! Eu acredito que precisamos desses espaços para reafirmar aquilo que nós precisamos na educação no nosso país, que é um ensino plurilíngue e não bilingue, mais trilíngue, e viver essas experiências dessas línguas nas escolas e universidades, o que infelizmente não temos visto de uma forma tão expressiva.
Eu acredito que o podcast ele é o ensaio para despertar isso em nós professores, futuros professores, acadêmicos e na comunidade de uma forma particular. Eu agradeço imensamente a todos vocês e ao projeto Língua Cast.