Transcrição do episódio 9 - Que pronome é esse?
CONVIDADOS FALAM: eu tagarelarei, tu tagarelarás, ele tagarelará, nós tagarelaremos, vós tagarelareis, eles tagarelarão. (solicitar para gravarem e encaminhar para os hosts)
ANA KARLA: Hey, everybody! Este é o nono episódio do LínguasCast, o seu podcast sobre linguagens, identidades e otras cositas más. O título do episódio de hoje é: “Que pronome é esse?” Let’s que vámonos!
LETÍCIA: Olá, linguarudos, linguarudas e linguarudes! Sejam bienvenidos ao nono episódio do LinguasCast. Eu sou a Letícia.
DAVI: E eu sou o Davi. Hello my tongue twisters, welcome to our podcast.
LETÍCIA: O tema do episódio de hoje tá na ponta da língua e é a linguagem neutra, que também pode ser chamada de inclusiva, não binária ou não sexista.
DAVI: E, para falar sobre ele, nós convidamos a professora Patrícia Graciela da Rocha, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,UFMS, e Gal BMT, estudante do curso de Psicologia, também na UFMS.
LETÍCIA: Gente, nós agradecemos imensamente o fato de vocês terem aceitado o convite da equipe do LínguasCast e … sejam bem-vindas!
GAL: - Muito obrigada!
PROFESSORA PATRÍCIA: - Obrigada!
DAVI: - Muito bom ter vocês aqui e já que a gente está falando da linguagem neutra para o nomes, os pronomes que eu uso não é ele dele.
LETÍCIA: - E eu uso os pronomes ela dela, e quais pronomes vocês gostariam que a gente utilizasse para se referir a vocês?
GAL: - Bom, é eu aceito tantos os pronomes neutros quanto os pronomes femininos.
PROFESSORA PATRÍCIA: Bem… Eu estou acostumada com ela dela. Então, continuamos assim.
DAVI: - Beleza.
DAVI: - A nossa primeira pergunta para começar esse tópico, que, a propósito, é o assim, o temática que eu estava desde o começo do podcast, querendo gravar e falar sobre ele é a gente sempre que a gente queria inclusive ter uma pessoa que se identificasse, que os pronomes não binários, né? Então, essa pergunta é, para Gal, a gente quer saber, queremos ouvir você falar um pouco sobre como foi para você descobrir os pronomes. Descobri que os pronomes ele, ela, eles não davam conta, da maneira como você se identifica, expressa ao seu gênero e como você se sentiu nesse processo todo?
GAL: - Bom, então em especial no começo não é do meu entendimento, enquanto uma pessoa trans, uma pessoa trans não binária, que, a propósito, gostaria de deixar, não é a minha identidade de gênero, era uma travesti, não binário. E o entendimento quanto pessoa travesti só veio ao longo, né, do meu processo de transição, então, por isso, a partir de um determinado momento, eu comecei a ter preferência pelos pronomes femininos, mas é… veio de primeiro ter contato com o que é a causa trans e entender que só os pronomes que a gente está acostumade não são suficientes, porque existe toda uma população e também toda uma possibilidade de abarcar essa população que não se identifica com essa imposição, porque o problema da da utilização apenas de pronomes ditos masculinos ou ditos femininos, não é que eles sejam de fato usados, mas sim, quem fica excludente não é quem fica excluso dessa utilização e por isso surge, não só os pronomes, mas toda a proposta é do que é uma linguagem neutra, que inclusive, se a gente for pensar mesmo pela linguagem, não é pela língua que se faz no Brasil, até pela linguagem escrita, ela já é possível, não é para além da ampliação da construção de conceitos novos e de novas pronomes nós temos uma linguagem que já pode ser neutra, feita de uma forma neutra.
LETÍCIA: - A partir do momento, então, do processo de se identificar e se identificou com a linguagem neutra. Quais foram as maiores dificuldades que tu tem que enfrentar nesse processo linguístico, mesmo das pessoas usarem da recepção, como que é?
GAL: - Então, como é algo assim, eu não vou dizer necessariamente novo, porque.
é a necessidade disso, dessa inclusão, imagino que deve ser vivenciada pelas pessoas trans por muito tempo essa necessidade. Então as pessoas arranjam formas de se comunicar. É o pajubá tá aí pra mostrar, né? Que as linguagem surgem e que gente tem essa, essa possibilidade de estar se comunicando, mas é, dentre as dificuldades para além de, é Claro, é um exercício, né? A partir da gente entender essa necessidade de ter contato com esse conceito, com essa forma, surge é não dificuldade, mas uma necessidade de atenção, de vontade, de se treinar, de colocar em prática também, né? Porque a gente não consegue incluir nada sem estar vivendo isso e por ser algo que às vezes é, é muito rechaçado, sofreu bastante ainda sofro assim, censura de algumas coisas, porque, por exemplo, eu escrevo, eu sou estudante de psicologia, e eu escrevo todos os meus trabalhos em linguagem neutra. E muitas vezes, a maioria das vezes eu recebo eles com erros, como se fossem erros ortográficos. E por mais fica aí uma complicação, né? Porque por mais que os professores sejam abertes etc, ainda assim tem essa tem esse embate, né? Então, é de certa forma, também uma resistência. Além disso, quando a gente fala, às vezes surge uma dificuldade de compreensão, um estranhamento, mas esse estranhamento faz parte do processo. E muitas polêmicas que envolvem também a nossa demanda, porque quando a gente tem uma dificuldade, certamente você estar tentando, você estar em prol disso, a incluindo dentro dos espaços que que podem e aí sofrer preconceito descaradamente diretamente sobre isso. Embate mesmo sobre isso, um desrespeito da minha Liberdade de tomar essa posição em me comunicar dessa forma, porque, é claro, quando a gente está se comunicando com alguém também tem a parte do outro de querer estar aberto para entender o que a gente tá falando assim, né? E geralmente, as pessoas. Aliás, geralmente não, mas muitas vezes as pessoas não estão muito abertas. Então é uma dificuldade, a maior dificuldade eu acho que é justamente na recepção e não muito na adensam.
DAVI: - É muito louco isso que essa insistência da não utilização dos pronomes que você se identifica é uma disputa mesmo, né? É uma imposição de não, eu não acredito nisso que você tá falando. Eu quero impor a minha narrativa de que eu não acredito nessa, nessa de visão louca de gêneros ai muitos gêneros. É uma imposição mesmo, não é uma disputa.É meio louco.
DAVI: - É a próxima pergunta, é para as duas. A gente quer falar um pouco sobre esses, digamos dois lados, quando a gente é conversa sobre a linguagem neutra, a favor e contra. A gente tem pessoas que são a favor, elas dizem muito essa ideia de que ser contra a linguagem neutra é ser preconceituoso, é equivalente a ser preconceituoso. Então a gente queria saber um pouco da opinião das duas sobre essa frase, é o que vocês entendem, né? Se vocês concordam com essa afirmação?
PROFESSORA PATRÍCIA: - Bem, eu acho que antes de mais nada, é preciso esclarecer o
que é preconceito é linguístico, então eu não me sinto à vontade para criar um novo conceito, né? Então eu vou utilizar aqui uma fala, uma escrita do professor Marcos Bagno, que é um grande sociolinguista brasileiro e ele diz o seguinte, que preconceito linguístico é a rejeição às variedades linguísticas de menor prestígio. Ou seja, é todo juízo de valor negativo, não é de reprovação de repulsa ou desrespeito, às variedades linguísticas de menor prestígio social. Então, dito isso, né? Se eu menosprezo seu desrespeito, né? Se eu digo que é feio, que é ruim, que é, é enfim, que é malvisto, que é errado, eu estou emitindo um juízo de valor negativo diante de uma variedade que pode não ser a minha, mas é de um grupo social de menor prestígio sim, não é porque é um grupo memorizado, então sim, né. Dito isso, com a partir desses critérios, se eu não uso, tem que pelo menos respeitar quem usa sim.
GAL: - Sim, é prontamente sim, de alguma forma. Mas para além de ser preconceituoso, também pode ser ignorante, né? Sobre essa realidade e, na verdade, as pessoas trans e as pessoas que estão a favor também da linguagem neutra, encontram essa dificuldade de ser entendidas de serem vistas, de serem ouvidas, é justamente de serem ouvidas falando sobre essas necessidades, sobre as suas formas de se comunicar. Então é muito sobre essa ignorância e é muito estranho, a forma como muitas vezes nos debates, né? Ou quem está contrário ou fica questionando negativamente a possibilidade da linguagem neutra, colocando como se fosse um processo espontâneo da nossa linguagem, como se não fosse algo que está sendo desenvolvido socialmente, né? Então, portanto, não poderia ser abraçado, né? Mas a linguagem é viva e se quem disse que ela não está surgindo socialmente, não está dentro da do que a nossa luta e do que a nossa vivência, do que a nossa fala e para além disso é mesmo vindo num formato menos corriqueiro ou vivido assim, né? Para depois ser abarcado. É um estudo, entendimento de diferentes necessidades, da linguagem, de necessidade, de uma melhor comunicação, de inclusão mesmo. Então, por que não tomar posturas frente a isso? A gente tem feito também vários movimentos, na verdade de mudar também as linguagens racistas, não é os vocabulários racistas que nós temos um e esses vocabulários racistas foram construídos socialmente, e não está certo, não porque foram construído socialmente que está na boca do povo, que que tem que continuar assim e justamente por isso que é tão importante a gente continuar.
LETÍCIA: - E pensando nessa questão dos embates, assim que tu já trouxe uma outra vez, né? Assim, numa outra fala tua. A questão do confronto, assim de se confrontar realmente de violenta, não. Não gosto da palavra violentamente, mas de ter que ser mais veemente na defesa do direito de usar e de se comunicar com a linguagem neutra. Assim, queria saber se você se sente confortável para falar sobre isso. Assim, quais são os teus argumentos quando isso acontece? Porque é legal também a gente circular quais são os argumentos que uma pessoa que vive isso assim, na pele, no corpo, utiliza para a gente também poder pensar, na defesa do uso da linguagem neutra?
GAL: - Sim, com certeza. Então tem como se vem nos mais variados formatos das mais variadas ocasiões, então muda até um pouquinho, pelo menos na minha vivência, alguma postura, porque às vezes a gente tá na tá na força de, de se impor falando, né? Disse por vivenciando e isso em prol da causa. Mas não sobra muita energia às vezes, para ainda ir para o confronto, sabe? É para tentar ali ainda, de alguma forma, forçar isso porque, como eu disse antes, a recepção não é muito boa, então tem um desgaste nisso, né? Mas com certeza os argumentos são fundamentais e possíveis argumentos, esses que vem muito do que a gente está falando aqui agora, né? De qual está sendo a sua dificuldade pra gente se comunicar, quais, então são os recursos que a gente pode estabelecer para que você me respeite, me entenda porque se não a gente não vai se comunicar. É então, às vezes também essa essa imposição de então você não se comunica comigo. Sabe… porque essa é a forma como precisa ser comunicada. E acaba sendo a ferramenta, não é? Mas antes, é claro, é possível espaço de conversa sobre como funciona esse preconceito. De onde vem ele, o que que coloca quando vai para para meios escritos, eu acredito que fica mais complicado porque entram questões das regras gramaticais, regra aqui, norma lá, norma, eu não sei o que. E aí ficou um pouquinho difícil da gente contestar. Mas de ser aceitos por por conta das regras, um só que, na realidade, tudo é possível. Então, a cada dia a gente tem gírias, então por que as gírias são aceitas? Por que o jeito “X” jeitinho de cada um de falar é aceito e a minha fala não vai ser? Isso também é um argumento que pode vir a jogo assim, eu acho que contribui para as pessoas se colocarem assim, entenderem o que, o que na linguagem delas também é, subjetivo não é? E da necessidade delas de serem de se comunicarem.
DAVI: - Gal, eu fiquei muito feliz que você mencionou a questão da gramática, porque é a ponte para a nossa próxima pergunta. É professora Patrícia? É, a gente quer saber por que a senhora acha, enquanto linguista enquanto professora de língua portuguesa, que as pessoas elas defendem quando elas vão defender a não utilização da da linguagem neutra, elas recorrem. A gramática. É por que que essa insistência? Não vamos voltar para a gramática, porque são coisas diferentes, não é? Como a Gal apontou a linguagem oral, a língua oral da língua escrita e aí, pensando nisso, será que a gente pode pensar que a linguagem neutra não faz parte da gramática?
PROFESSORA PATRÍCIA: - A gramática é tão viva quanto a língua, a gramática, nada mais é do que a descrição das regras da língua, não é? E a língua é das pessoas, né? Não existe uma entidade superior chamada língua, né? Sim, existem pessoas que falam línguas, né? E as línguas são sociais. É, então é, eu acho que é interessante deixar uma coisa registrada não é não existe um consenso, nem entre os linguistas e nem entre os gramáticos sobre a linguagem neutra não existe, isso é fato, mas interessante que ambos usam a gramática, as regras da gramática para se justificarem. É interessante porque exatamente por isso, porque a gramática ela dá argumento para o que você quiser, né? Se você quiser dizer, por exemplo, defender o uso da linguagem neutra, você vai lá e mostra historicamente que a língua se transforma, ela muda, ela é dinâmica, a, enfim, a gente tem inúmeros exemplos de de de palavras que mudaram ao longo do tempo. Mudaram não só a pronúncia, mas mudaram o significado, mudaram a escrita, inclusive a palavra alguma. Por exemplo, a palavra “umas” escrevia “ua”, aí os ortógrafos resolveram colocar um "M" ali no meio e as pessoas passaram a falar "uma" porque tem aquela ideia de que tem que escrever como, tem que falar como escreve. Então, assim, ambos os lados usam as regras de gramática, que são criadas a partir do uso, para defender o seu lado. Mas a língua, ela é um campo de luta, né? Ou seja, disputa, então historicamente, né? Os mais conservadores tendem a não se agradar com as mudanças e aí se agarram aquela tradição gramatical voltada para os grandes escritores, né? Uma coisa ao passado mesmo, né? Agarrado ao passado, digamos assim, ahm pra não mudar, né? Já os mais progressistas, usam esse argumento de que a língua é viva, é dinâmica, está aberta a todo e qualquer tipo de variação, né? E da variação, então a mudança, usam esses argumentos pra dizer que sim, que pode que pode existir uma linguagem inclusiva, né? Ou uma linguagem neutra.
DAVI: - Sim
PROFESSORA PATRÍCIA: - Então é um campo de disputa. Né? Só que assim, na língua não existe um dono de línguas, nem os gramáticos e nem os linguistas são donos da língua, né? Eles apenas descrevem o que acontece na língua, que é viva, né? Que é dos seus falantes. Ah, então eu acho, assim, que essa é uma discussão que ainda vai acontecer por muito tempo e é importante que se discuta sobre. Eu acho que há uma mudança consistente no sentido de ser descrito então pela gramática ou pelos dicionários, né? Essas coisas acontecem a médio e longo prazo. Geralmente, a coisa se concretiza na fala e depois vai pra escrita, né? A maioria das mudanças na língua, primeiro se dão na fala e depois na escrita, embora existam casos que sejam o contrário, né? Que primeiro acontece na escrita, que é o caso do "um" e "uma".
DAVI: - Aham.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Que aconteceu primeiro na escrita e depois na fala. Mas existem muitos outros casos, mas geralmente as mudanças se dão primeiro na fala, elas passam por um momento de, e isso a sociolinguística explica, né?Passa por um momento de convívio com duas variedades e, mais tardiamente, quando a mudança já está estabilizada ela vai para a escrita, porque a escrita ela é um código criado formal, arbitrário, são regras e a fala não, a fala é fluída, como se diz, nada me impede de usar, se você não quiser usar na escrita você não não pode me impedir de usar a minha variedade, né? Ou seja, a língua me permite isso, a língua também é minha, né? Ou seja, se eu estou falando ela também é minha. Então usar a gramática pra dizer que não pode é tendencioso
DAVI: - Não tem nada a ver. Eu tenho a impressão mesmo de que essa ideia das pessoas não defenderem a utilização tem muito a ver também com a gramática num lugar de prestígio e de que as pessoas que a dominam, portanto, são as que sabem, então, sabe, parte desse lugar, sabe? De uma valorização demasiada acho que da escrita.
LETÍCIA: - Dessa gramática formal. Que gramática é essa que ninguém, que ninguém fala? É uma gramática abstrata que está lá em algum lugar que não é acessível, que ninguém fala.
DAVI: - Que ninguém domina.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Que gramática é essa? A gramática nada mais é do que a descrição das regras da língua.
DAVI: -Sim.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Né?
LETÍCIA: - E as regras da língua podem mudar.
PROFESSORA PATRÍCIA: - E as regras da língua podem mudar, se muda a língua mudam as regras, né? Então, assim, o processo não é o contrário, existe, existia, parece assim uma coisa da criação, né? Existia Deus, existia gramática e depois vieram os sujeitos e começaram a falar essa gramática. Não é assim, é o contrário, existiam os sujeitos que falavam uma língua e a gramática veio depois, tanto que a gramática é algo recente, algo dos Alexandrinos, tem o quê? Não tem mil anos, né? então assim, é algo que veio como uma...
LETÍCIA: - materialização?
PROFESSORA PATRÍCIA: - Uma materialização, uma descrição mesmo, né? Um registro. A gramática é um registro das regras da língua e isso é algo super recente.
LETÍCIA: - Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Né? Mesmo porque a escrita é algo recente. A língua falada é algo que existe desde que o mundo é mundo não, porque aí a gente entra numa outra questão que é como que foi criado e quando que a linguagem humana também foi criada, né? E não vamos entrar nessa seara aí de discussão. Mas a gramática escrita é muito recente. Muito recente, ela varia.
LETÍCIA: - E o uso da linguagem neutra, ele pode ser considerado uma política de linguagem, né? Pode, então, eu queria que você falasse um pouco mais pra gente, assim, sobre o que envolve ser uma política de linguagem assim, né, opção? é uma
PROFESSORA PATRÍCIA: - essa é fácil, essa é fácil, porque se você considerar que política é tudo aquilo que eu escolho.
DAVI: - Aham.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Né? Tudo aquilo que eu escolho, que eu digo, que eu faço, então escolher, né? Uma, falar, usar uma neutra ou uma linguagem. Eu gosto mais do termo inclusivo, porque eu acho que não existe maioridade. Né? Eu prefiro inclusivo.
DAVI: - Inclusivo também é um outro aspecto, também não só relacionado ao gênero, né?
PROFESSORA PATRÍCIA: - Isso. É exatamente, porque movimentos feministas também vem reivindicando já há alguns anos, né? Algumas décadas já essa linguagem inclusiva, porque a gente percebe que existem marcas de um machismo estrutural na nossa sociedade, né, então é interessante a gente deixar registrado e separar as coisas, né? A gente não pode dizer assim também, "ah porque a língua é machista, né?" Ou "a língua é homofóbica", a língua não, ela não é, o que é é a sociedade, o que está na língua é a expressão exatamente do que a sociedade é, né? Então a gente não pode negar que existem marcas de de masculinidade na nossa língua há muito tempo. E que mudaram também no decorrer do tempo, né? Que não era assim no latim, né? Tanto que existia um artigo neutro no latim e perdeu, tanto que não existe, por exemplo, no inglês, não existe gênero, marcação de gênero nos adjetivos e nem nos substantivos.
LETÍCIA: - Urhum
PROFESSORA PATRÍCIA: - Então, a tendência, e aí a gente entra em, a tendência é que as línguas não tenham gênero, né? Se você olhar quem pesquisa a linguística histórica, né? E faz a comparação entre as línguas, observa que a tendência historicamente foi as línguas irem perdendo o gênero.
DAVI: - Nossa, isso é muito interessante.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Então nesse sentido, a gente entraria em outra discussão, porque existem perguntas assim também. "Ah, mas então vamos criar um outro gênero, um outro pronome?". Se você olhar a evolução da língua, a mudança da língua ao decorrer no decorrer da história, você percebe que é mais fácil tirar o artigo, tirar o gênero do que você incluir um outro pronome, porque você entra numa lei linguística, que é a lei do menor esforço e aí você vai tirando marcas, né? Você vai tirando marcas de plural, vai tirando marcas de flexão de verbo. Aí, então, se você for nessa lógica da evolução da língua, a tendência é você tirar as marcas. Então, é você tirar os gêneros, como é o inglês, por exemplo. Então no inglês é muito mais fácil, o inglês só colocou um they lá, que é o artigo neutro, digamos assim, e todo o resto tá resolvido, porque não tem marcação de gênero. Então é muito mais fácil, né? Com uma palavrinha resolveu todo o problema né? Então , se você pensar numa questão de mudança linguística, você olhando historicamente para todas as línguas, as línguas neolatinas são as que mais seguraram ainda a marcação de gênero, o alemão, por exemplo, ainda tem os três gêneros.
DAVI: - Sim.
PROFESSORA PATRÍCIA: Ah, mas se você olhar, assim, uma tendência lógica é o apagamento dessas marcas, né e uma objetivação da língua, né?
LETÍCIA: - Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Inclusive eu procurei um tema relativamente novo na linguística, mas ele é o mais estudado na psicologia, na análise de discurso, na ciências sociais, mas na linguística é algo muito recente. Praticamente não existem pesquisas na linguística acerca da linguagem inclusiva. Então quer dizer que eu não estou aqui num lugar especialista, eu sou professora de políticas linguísticas e socioculturais.
LETÍCIA: - (risos), mas o que nos interessa é a parte da política linguística, por isso de linguagens, por isso que a gente te chamou. Vai lá Gal.
GAL: - Com certeza. Queria agradecer pela fala também, muito importante e pegando gancho, né? Nessa fala, o que eu fico pensando sempre é que as necessidades ao longo da história ou da formação da constituição de sociedade, de sujeito, de humano, enfim, as necessidades de comunicação e as formas de se comunicar sempre estiveram em mudança né? De acordo com essas necessidades. Então o que a gente vê é que a gente precisa dessas adaptações, a gente precisa se atentar, dar atenção da voz pras formas de comunicação, para como elas são necessárias e se utilizar dessas ferramentas, desse registro como ela falou na gramática, né? Porque o que a gente vê na verdade é que, como ela tava dizendo, a proposta é ampliação, né? E aí o que a gente vê na contramão é a criação de tentação, né? Tentativa de criar leis ou políticas que proíbam
LETÍCIA: - Urhum
GAL: O que a gente quer com a linguagem inclusiva, com uma linguagem neutra, não é proibir alguém de falar, é que mais pessoas possam falar e serem ouvidas e aí de fato como que a gente tem a proibição, né?
LETÍCIA: - Não é ressarcir o direito de falar ao ampliar os direitos.
GAL: - É tirar a política de nós, de nós seres políticos em sociedade, né?
DAVI: - Nossa, isso é simbólico.
LETÍCIA: - É super forte
PROFESSORA PATRÍCIA: - Nossa, uma coisa que eu acho interessante acrescentar a essa ideia é a noção de que a gente usa a língua para nomear coisas. O ser humano, desde que o homem é homem, ele usa a língua para nomear. Então a partir do momento que eu nomeio, aquela coisa também passa a existir.
DAVI: - Aham.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Por isso a importância da inclusão e é por isso que é importante, por exemplo, quando a gente percebe que palavras que a gente tem na nossa língua são palavras racistas, por exemplo, e a gente quer construir uma sociedade não racista, a gente deixa de usá-las. Por exemplo, quando a gente toma consciência de que a palavra denegrir tem essa, essa significação negativa e ela vem de negros, né? Ou seja, é resultado de um histórico extremamente racista, né? Escravocrata, de um passado que a gente viveu, que a gente não quer continuar construindo, né? Ou reconstruir esse mesmo modelo de sociedade. Então, quando eu tenho consciência disso, eu posso escolher politicamente, usar ou não. Né? Então, a partir do momento que eu nomeio, eu faço com que aquela coisa passe a existir né?
LETÍCIA: - Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Então a língua tem esse poder mesmo né? Não que, é importante a gente registrar que não significa, assim, a partir de agora vamos começar a utilizar então essa comunidade vai ter garantia dos seus direitos, infelizmente não é uma coisa assim, não é exatamente igual a outra, mas é uma parte D, né? É um passo para, né? Um dos elementos para, então é importante a gente separar as coisas, né? A língua tem poder, mas não tanto poder a ponto de mudar todo um aparato social que é preconceituoso.
GAL: - É muito muito forte o que você fala sobre a importância do existir, porque é justamente um conceito né? Uma proposta que busca incluir uma população que é apagada, né? colocar no jogo uma população que não existe, ou que existe para ser violentada e não incluída.
PROFESSORA PATRÍCIA: - Porque você renomear é você reconhecer.
GAL: - Enfim, é interessante como esse fenômeno acontece até dentro da própria comunidade, né? Porque não é só em um contexto social que uma pessoa por exemplo trans ou uma pessoa que tem alguma outra especificidade de gênero, de tratamento, tem que ser reconhecida, né? Porque o sujeito consegue se constituir, a partir do momento que você se entende como uma pessoa trans, você tá tendo um autoatendimento diferenciado, só que o que a gente vê, de fato, é essa dificuldade pras pessoas reconhecerem a sua existência, reconhecerem, porque é claro, tá, então, quem vem de fora nomeia, né? Só que onde que está na nossa relação de comunicação ou nos nossos direitos mesmo, enquanto cidadãos, assim, de ser quem a gente é, de ser respeitado porque a gente é, de ser tratado como a gente é.
DAVI: - Muito bom, a gente tá indo pra nossa última pergunta, é uma pergunta pras duas, na verdade porque começa na elaboração do roteiro, né? Ahm quer dizer, bem na minha idealização, na minha cabeça, né? Quando eu pensei nessa temática lá no comecinho do línguas cast, eu encontrei alguns materiais, inclusive de notícias onde a gente tinha uma vereadora, inclusive bolsonarista, claro, que comemorava a criação de leis municipais que impediam professores, alunos de usar a linguagem neutra nós ambientes escolares. Então, a minha pergunta é sobre isso, assim, por que que vocês acham que essa pauta da linguagem neutra, ela preocupa tanto os legisladores
DAVI: – A ponto deles criarem essas leis e o que significa, simbolicamente, a criação dessas leis que proíbam o uso? Assim, o impacto, sabe? Eu fiquei pensando sobre isso.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É, eu acho que você já sabe a resposta. Mas, vamos lá.
DAVI: – A gente quer ouvir vocês.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Vamos lá. Primeiro que é impossível você legislar sobre a língua. Isso são tentativas de. E o que você pode fazer é atrasar um pouco o processo. Mas, você não vai impedir, é como você tentar parar um rio de correr, é meio que impossível. Mas essas tentativas de legislar sobre para você então interromper uma criação que é social, uma mudança na língua vai na direção, como eu já falei, vai na direção do… Espera, que eu estou procurando uma palavra… De interrupção, ou de não deixar ser toda a diversidade. Esse tipo de política, que você pode chamar de política linguística, mas é mais uma política linguística que vem de cima pra baixo, não debaixo pra cima, ela vai na mesma direção de um não reconhecimento de todo tipo de diversidade. Não só na diversidade linguística de gênero, mas a diversidade racial, enfim, de todo tipo. Então, você percebe que esse tipo de política é razoavelmente coerente com outras políticas que são de governo, geralmente. Tanto que elas são elaboradas na Assembleia Legislativa, na Câmara de Vereadores, etcétera e tal. Então é só você olhar pro lado e ver quais são as outras políticas públicas que vêm no arcabouço dessa. Geralmente ela não vem sozinha. Ela não vem sozinha, ela faz parte de toda uma ideologia, que se diz sem partido, mas na verdade ela é uma ideologia de um partido só, que tenta matar todo tipo de diversidade e também de democracia, porque você aceitar o outro ser diferente é você ser democrático. A democracia é o chão onde todas as minorias também têm sua voz. Então, quando você tenta abafar essas minorias, que na verdade são minorizadas e não são minorias numéricas.
LETÍCIA: – Numéricas. Aham.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É exatamente isso, ou seja, você tentar conduzir um discurso único, uma ideologia hegemônica e essa ideologia é sim branca, hétero, e masculina sobretudo. Então tanto que quem diz que a linguagem, que o gênero masculino é inclusivo é o homem branco, não é outra minoria. Até existem outras minorias que compram, digamos assim entre aspas, esse discurso de que o gênero masculino é neutro.
LETÍCIA: – Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É neutro, para quem?
LETÍCIA: – Até a própria utilização de “presidenta” que a Dilma fez questão de marcar que ela gostaria de ser tratada formalmente nos documentos como presidenta.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Exatamente.
DAVI: – Membra também, começamos a utilizar no C.A.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Esse fato é bem icônico dessa luta por uma linguagem mais inclusiva. E eu acho que não por acaso, surgiu exatamente no governo Dilma. Mas é bom lembrar, que um pouquinho antes dela, vocês não deviam nem ser nascidos, mas o Sarney, o presidente José Sarney, lá na década de oitenta ele já usava nos discursos televisivos brasileiros e brasileiras.
LETÍCIA: – Sim, nossa, verdade!
PROFESSORA PATRÍCIA: – Ele era muito criticado já por isso porque vinham os puristas e diziam, o chamavam de ignorante e diziam que ele não precisava marcar brasileiras porque ele estava sendo redundante de tal.
DAVI: –Nossa.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Mas ele já marcava lá. A gente não sabe exatamente o porquê. Enfim, mas essas questões são bastante antigas, brasileiros e brasileiras.
DAVI: – E você, Gal?
GAL: – Perdão a pergunta foi…
DAVI: – Foi a última.
LETÍCIA: – A questão da legislação.
DAVI: – Por que você acha que os legisladores se preocupam tanto com essa temática a ponto de fazer as leis e qual o peso simbólico disso.
GAL: – Então, de fato a preocupação desse pessoal, o motivo propriamente é um pouco complexo para mim enquanto pessoa afetada por isso de pensar sobre, de compreender. Mas é com certeza oprimir. Com certeza o objetivo é oprimir, é continuar se mantendo numa posição hegemônica, numa posição de supremacia e sujeitando nossos corpos para essa opressão, essa violência, para tentar ter controle sobre nossos corpos. É barrar a nossa voz, barrar o nosso direito de ocupar os espaço, de todas as maneiras possíveis até nas maneiras que não poderiam ser barradas.
LETÍCIA: – Uhum.
GAL: – Então, é muito complicado. E, simbolicamente, a criação dessas leis significa de fato uma consumação, uma consumação legal assim de que nós não somos assegurados. De que o nosso espaço não é válido.
LETÍCIA: – De que não há espaço para vocês.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Legitimação. Legitimação é uma boa.
GAL: – Legitimação é uma ótima. Sim. Uma não preocupação também com as nossas…
PROFESSORA PATRÍCIA: – Acho que a palavra censura é boa também.
GAL: – Também é forte.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É, uma censura, ou seja, você não pode ser você, você não pode existir assim. Ou seja, eu não eu não legitimo…
GAL: – Então eu te mato.
PROFESSORA PATRÍCIA: – As palavras legislação e lei tem a mesma origem.
LETÍCIA: – Aham.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Então eu não legitimo a tua existência. Eu não legitimo o teu jeito de ser e nem o teu jeito de falar.
DAVI: – E essa questão de matar às vezes é tanto fisicamente quanto linguisticamente.
GAL: – Com certeza.
DAVI: – É, eu não te dou o direito de assistir na minha língua.
GAL: – É, estruturalmente, fisicamente, tudo.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Talvez vocês até possam não colocar isso, mas acho que é interessante pegar esse teu gatilho. É interessante porque você não pode existir na minha língua como se a língua fosse minha, como se ela não fosse sua, isso que é o mais grave.
LETÍCIA: – Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Ou seja, eu, que estou aqui legislando…
DAVI: – Não é “nós”, é “nós” e “eles”.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É. Eu sou portadora dessa língua então você não pode vir aqui, e as pessoas usam: “vão macular a língua”.
DAVI: – “Estão acabando com a língua portuguesa”
PROFESSORA PATRÍCIA: – É estão acabando com a língua portuguesa e não sei o quê. Como se ela tivesse um dono.
GAL: – É muito interessante perceber isso, porque é justamente a língua dita portuguesa e tem todo um processo que envolve isso, mas é uma língua feita aqui, é uma língua que acontece aqui. Vão chegar para esse pessoal, os portugueses, e falar que por usarmos esse nome, a gente teria que…Opa, como funciona isso? Como que a gente vai…
PROFESSORA PATRÍCIA: – Como se eles já não estivessem em outros processos.
LETÍCIA: – Sim, eles poderiam reivindicar também esse nome do português, é verdade.
GAL: – Mas o que eu posso dizer sobre a minha postura, a postura das pessoas que eu convivo e também de alguma forma acredito que sobre a comunidade é que a nossa população resiste. É que a nossa população se faz presente e luta para incluir das mais variadas formas que também criam-se, e daí surgem surge um processo que eu acho que é muito, acaba sendo até muito divertido dentro das comunidades, que é o de abrigar, pegar uma crítica. Por exemplo, quando deu estouro da linguagem neutra nas redes sociais, começaram a tirar sarro, zoar, começar a colocar a letra E no final de tudo, substantivo, adjetivo, tudo que fosse, rindo, colocando como se fosse algo completamente fora do que é gramaticalmente aceito, mas que muitas gírias e muitas formas de se comunicar entre nós surgiram então da apropriação dessa zoação. Então, por exemplo, eu estou achando interessante compartilhar essa vivência porque foi algo muito fortalecedor para nós vivermos. Então, eu tenho um grupo de pessoas trans. A gente almoçava todo dia juntas e para nos comunicar nós começamos a colocar uma letra E no final de tudo. Então, todes es freses fiquevem essem. E ninguém mais entendia o que a gente estava falando. Estávamos falando ne linguegem neutre. E passamos a nos desenvolver, a nos comunicar dessa forma. É muito divertido, mas assim, a gente vai continuar se comunicando. E a gente vai continuar, querendo elus conviverem conosco ou não, o espaço é nosso. Então essa é a questão e nós estamos abertos a comunicação.
LETÍCIA: – Uhum.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Mas deixa eu registrar, é que essa é uma estratégia muito interessante que já foi utilizada em outras brigas históricas acerca da nomenclatura que se dá, como por exemplo sobre a palavra viado. Quando a comunidade começou a usar essa palavra. “Então tá. Estão chamando de viado, vamos começar a se chamar”. Dando uma colocação positiva para essa palavra, pronto, acabou o palavrão. Então trouxe pra mim. Quando eu trago pra mim aquela palavra que você…
LETÍCIA: – Usa pejorativamente.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Eu a uso positivamente, acabou.
GAL: – A palavra “queer” também.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É! Isso é usado você, tem vários exemplos assim, a própria palavra puta. Quando você diz “ah não, eu sou puta mesmo” começa a chamar de biscate, e as próprias mulheres começaram a utilizar esses nomes, que eram utilizados pejorativos para então se nomear positivamente, acaba com o palavrão. Você muda o sentido, muda a carga é semântica dela. E aí você muda o argumento do outro, putz, mas aí agora eu vou chamar ele do que então, se o viado não é mais palavrão, eu vou chamar do quê?
GAL: – Pelo nome, olha só!
LETÍCIA: – Hahaha! Quem sabe!
PROFESSORA PATRÍCIA: – Com a palavra puta é a mesma coisa, putz, mas ela não se ofende mais quando ela chama de puta, então vou chamar do quê? Então está vendo? Quando você se apropria daquela palavra e muda a carga semântica você desestabiliza quem utiliza como carga negativa.
LETÍCIA: – Bom, gente, como o Davi tinha falado que a gente estava se encaminhando pro final, e no final geralmente a gente abre espaço se vocês quiserem falar, se estão envolvidos em algum projeto. Gal, se você acha interessante divulgar algum grupo, algum coletivo que também trate, que possa ampliar as discussões para quem se interessar, para os nossos linguarudas, linguarudes e linguarudos que se interessarem, continuarem essas trocas e escutando. Se você quiser divulgar também fica à vontade.
GAL: – Gostaria de falar sobre o coletivo Transpor, aqui da universidade, da UFMS, o qual eu sou representante. Então para quem estiver interessade, se comunique conosca pelo site da Proaes. Na ala dos coletivos vocês conseguem ver os contatos e tudo mais. Nós temos o Instagram também, Coletivo Transpor. E é um um coletivo que tá iniciando ainda, a gente tá tentando se fortalecer para conseguir ter mais contato e também ser acolhimento para nós mesmo aqui dentro da universidade.
LETÍCIA: – Uhum. Ai que legal. Pro? Quer falar alguma coisa?
PROFESSORA PATRÍCIA: – Eu quero indicar dois textos em vídeo, quem se interessar pelo assunto. Um é do professor Marcos Bagno que se chama Linguagem Inclusiva, é uma live que ele fez na pandemia com o editor da Parábola, o Marcos Marcionilo
LETÍCIA: – Ah, eu nunca lembro o sobrenome dele.
PROFESSORA PATRÍCIA: – É muito interessante, muito muito boa. O professor Marcos Bagno sempre traz muito conhecimento significativo, sem preconceitos. Então, eu sugiro essa, Linguagem Inclusiva do professor, e outro um videozinho da Rita Von Hunty que se chama Linguagem Neutra, do Tempero Drag. São catorze minutinhos maravilhosos, ela começa inclusive citando textos da linguística, dois livros de linguística geral que a gente trabalha na graduação, inclusive de introdução linguística. Então, são dois vídeos para quem tem preguiça de ler, que vale muito a pena assistir. E aí, tem outros, se alguém se interessar, a gente pode citar alguns textos escritos. E o “Manifesto Ile/Dile”. Esse você, tem não é?
DAVI: – Eu já ouvi falar.
LETÍCIA: – Eu pensei que era o Manifesto do Lemebel, que é uma pessoa que eu adoro.
PROFESSORA PATRÍCIA: – Não… Se chama “Manifesto Ile para a comunicação radicalmente inclusiva”. Que é lindo, é escrito em forma de poemas. Recomendo, vale a pena a leitura.
LETÍCIA: – Obrigada! Obrigada, gente. Muito obrigada.